Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

informações do Wanderson foi dado o alerta de emergência sanitária
internacional, em um caso similar ao do novo coronavírus. Vieram técnicos
norte-americanos para Pernambuco e para a Bahia. Como o Wanderson tinha
estudado nos Estados Unidos e conhecia esse pessoal, ficou sendo a
contraparte deles no trabalho. Sua importância foi tão grande que, quando a
Câmara convocou o Ministério da Saúde para prestar esclarecimentos sobre o
Zika, quem falou pelo ministério foi ele. Portanto, eu já sabia sobre seu
trabalho.
Essa área de vigilância é geralmente formada por sanitaristas. São eles que
estudam boletins epidemiológicos, investigam doenças como a dengue,
descobrem e mapeiam vírus. E essa turma, historicamente, tem formação na
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, e na Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
É no sanitarismo também a maior trincheira do pessoal de esquerda na
saúde pública. É a praia deles, que se interessam pela parte de higiene, saúde
coletiva, análises de políticas públicas e levantamento de dados. A maior
referência desse pessoal é o Sergio Arouca, a pessoa que construiu o SUS e
que dá nome à escola da Fiocruz. Arouca era de esquerda, foi para o exílio
durante a ditadura militar e voltou para ser eleito deputado federal. É o
idealizador do texto que diz que a saúde é um direito de todos e um dever do
Estado.
As pessoas que ocupam os cargos da Secretaria de Vigilância em Saúde há
muitos anos vêm dessas duas escolas. É difícil achar alguém que tenha perfil
para compor esse órgão que não seja desse universo. Mas, no governo
Bolsonaro, qualquer pessoa que fosse mais à esquerda era rejeitada.
Quando fui nomeado ministro da Saúde, precisava encontrar alguém para
comandar a vigilância sanitária sem me chocar com as amarras ideológicas
do presidente e do seu entorno. Procurei então o Agenor Álvares, que fora

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