Naquele mesmo dia Heleno testou positivo para o vírus. O chefe do
Gabinete de Segurança Institucional era mais um integrante do governo
próximo ao presidente Bolsonaro a ser infectado pela nova doença. Esperava-
se que a chegada do vírus ao seu círculo mais próximo fizesse com que o
chefe do Executivo olhasse com mais atenção para as medidas de contenção
da pandemia. Mas não foi o que aconteceu.
O começo do isolamento foi muito duro e causou um efeito dominó. Um
prefeito de uma cidade do interior do meu estado, Mato Grosso do Sul, me
ligou para dizer que já havia mandado fechar a padaria, a borracharia, o
mercadinho. E ainda perguntou o que poderia fazer além disso. Questionei a
razão de ele ter feito aquilo. Havia casos de covid-19 na cidade? E a resposta
foi: “Não, mas meu opositor foi na rádio e falou que se eu não mandasse
fechar tudo iria morrer todo mundo na cidade. Ele quer ganhar a eleição de
mim. Então eu mandei fechar tudo”.
Nesse dia percebi que a questão eleitoral estava atrapalhando a política de
combate ao novo coronavírus. Os prefeitos estavam tomando decisões
pautados pela política. Estavam pensando nas eleições, raciocinei. O assunto
do adiamento das eleições já tinha sido levantado numa reunião que tive com
o Supremo Tribunal Federal, na presença do presidente da Câmara, Rodrigo
Maia, mas só foi mesmo a público um tempo depois.
Em 22 de março, participei de uma videoconferência com os prefeitos de
capitais em que declarei que as eleições, marcadas para outubro, deveriam ser
adiadas porque a disputa eleitoral poderia desviar o foco dos gestores e
causar uma tragédia por falhas no combate ao novo coronavírus. Propus que
prorrogassem os mandatos de prefeitos e vereadores até que a pandemia
estivesse controlada. Essa minha fala repercutiu em toda a imprensa.
Aquela reunião tinha sido solicitada pela Frente Nacional dos Prefeitos, e
surgiu de uma conversa que tive algum tempo antes com o prefeito de
antfer
(Antfer)
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