Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1
Comunico confirmação do primeiro caso importado do novo coronavírus (covid-19) na
Bahia, nesta sexta-feira (6). Trata-se de uma mulher de 34 anos, residente em Feira de
Santana, que retornou da Itália em 25 de fevereiro. #COVID-19

Eu estava justamente tentando falar com Vilas-Boas quando soube que ele
estava em Cuba. Logo no primeiro caso, com todo mundo concentrado, o
secretário de Saúde estava viajando.
Já o prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins (MDB), me ligava
desesperado todos os dias. Como ele não havia sido notificado pela Secretaria
de Saúde do Estado de que uma pessoa da sua cidade estava com suspeita da
nova doença, não havia tomado medidas. Porque no SUS é assim: você faz o
exame, mas a Secretaria Estadual de Vigilância tem que comunicar à cidade
em questão dizendo que a cidadã tal, endereço tal, está com suspeita ou
contaminada, para um agente fazer a visita de isolamento.
Quando o prefeito de Feira de Santana foi atrás da primeira baiana
infectada, teve que procurar mais de trinta pessoas. A funcionária do INSS
havia passado o vírus para a sobrinha e a irmã, que por sua vez o
transmitiram a outras pessoas. Assim, os casos da epidemia começaram na
Bahia por uma falha na comunicação entre as instâncias estadual e municipal.
O estado estava dormindo em berço esplêndido, o secretário, viajando.
Mas na época decidimos não chamar a atenção dele. Era o governo do PT, a
prefeitura era do DEM, o meu partido, o episódio poderia ser politizado.
Foi nesse contexto que conversei com o prefeito de Salvador para saber
como a cidade estava se preparando. Ele me disse que o dinheiro que
tínhamos passado para o estado, a primeira verba que o ministério passara,
que equivalia a cerca de dois reais per capita (ou seja, levando em conta a
densidade populacional), não estava chegando.
Os governadores tinham que se reunir com os prefeitos para fazer a
divisão, do menor município ao maior. Percebi que essa segunda passagem

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