National Geographic - Portugal - Edição 235 (2020-10)

(Antfer) #1
NECRÓPOLE ROMANA 81

Mais tarde, foi construído um mausoléu junto da
estrutura existente sobre o seu túmulo. Quem era a
mulher homenageada neste monumento funerá-
rio? Se os arqueólogos estiverem certos e ela tiver
sido a primeira pessoa sepultada na necrópole,
na medida em que a sua sepultura ocupou a po-
sição original nessa estrutura, é provável que ela
tenha sido uma pessoa muito estimada na Emona
romana. O seu estatuto social, fi liação religiosa e
local de nascimento, porém, ainda pertencem ao
reino da especulação. A análise dos restos mortais
está em curso e talvez possa produzir algumas
respostas no futuro.
“Na secção setentrional da necrópole, desco-
brimos alguns vestígios de frescos e de pavimen-
tos de mosaico que, provavelmente, revestiam
todo o local”, diz Andrej Gaspari. “Fragmentos
de frescos isolados junto dos enormes alicerces
do edifício sugerem a existência de nichos abo-
badados, cuja fi nalidade ainda não se conhece.”
Fragmentos dispersos de cerâmica e vidro
descobertos em sedimentos da antiga superfí-
cie sugerem que a necrópole também foi usa-
da para banquetes funerários nos aniversários


da morte dos indivíduos sepultados. Relatos
literários também descrevem estes banquetes.
A comunidade cristã interpretava a morte como
dies natalis, o dia em que os crentes renasciam
para a nova vida.
O artefacto mais espectacular é uma taça de
vidro azul transparente, descoberta junto do
corpo da mulher. O recipiente com 1.700 anos
tem o exterior decorado com uvas, folhas de
videira e gavinhas. O signifi cado da inscrição
grega gravada no interior da taça é: “Bebe para
viveres para sempre!”
Esta requintada taça poderá ter sido usada
na vida quotidiana e em cerimónias fúnebres.
A análise da sua composição química sugere
que o artefacto proveio do Mediterrâneo Orien-
tal, comprovando um circuito de trocas comer-
ciais na Antiguidade. O motivo da vinha está li-
gado à eucaristia cristã e à comunhão, mas teve
origem na Grécia, com Dioniso, deus pagão do
vinho e do êxtase. A maioria dos artefactos pre-
ciosos encontrados na Rua Gosposvetska estão
em exibição na Sala do Tesouro do Museu Mu-
nicipal de Ljubliana. j

Os habitantes de Emona enterravam os mortos em diferentes tipos de sepultura, desde simples covas e caixões
de madeira a sarcófagos e mausoléus. A necrópole descoberta sob a Rua Gosposvetska (em cima) é típica das
fases primitivas do cristianismo. Žiga Šmit (à esquerda) analisa o recipiente descoberto no sítio arqueológico.

Sepultura
Sarcófago
Fronteira do sítio
Parede do túmulo
vimento de mosaico

Sarcófago
de mulher de
estatuto elevado

LJUBLIANA

ARNE HODALIČ E KATJA BIDOVEC. MAPA: RENE MASARYK E GREGOR BABIČ

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