National Geographic - Portugal - Edição 235 (2020-10)

(Antfer) #1

EvertonMirandaensinouosapanhadores de
castanha a reproduzir vocalizações de harpia
como telefonee a detectarvestígios de ninhos no
solo dafloresta. “Agora,trocamos informações
sobrea harpianoWhatsApp”,diz Veridiana Viei-
ra.Atéà data,a suaassociaçãoe outros grupos
deapanhadoresdecastanhaajudaram Everton a
encontrar 34 ninhosnoestado.É um conjunto de
dados“notávele incrivelmentevalioso e invul-
gar”,dizRichardWatson,cujaorganização com-
pilouo únicooutroregistocomparável existente,
noPanamá.
Everton também lançou uma campanha de
relaçõespúblicasparadarformação sobre as har-
piase tentarreduziro númerodeaves mortas pro-
positadamente.Viuimagensdepessoas a segurar
harpiasmortas,oupartesdoseu corpo, durante


as entrevistas que fez a 180 proprietários de terras
e calculou que estes deverão ter abatido pelo me-
nos 180 aves em dois anos. Mais de 80% disseram
nunca ter visto uma ave tão grande e só queriam
vê-la mais de perto.
O biólogo ficou comovido quando muitos pro-
prietários mostraram arrependimento por ter
abatido uma harpia, sobretudo depois de apren-
derem mais sobre estas aves ameaçadas.
“Hoje, todos sabem que as harpias são positi-
vas para a região, e, por isso, já não os matam”,
diz Roberto Stofel, antigo madeireiro e caçador
que trabalha com Everton Miranda como esca-
lador de árvores.

É ÚTIL IMPEDIR que as harpias sejam abatidas, mas
o verdadeiro desafio, segundo Everton Miranda, é

O ecoturismo já está
a exercer um efeito
positivo nas harpias,
diz o biólogo Everton
Miranda, mostrando aos
proprietários que “a flo-
resta não é um local eco-
nomicamente estéril”.
Ele acredita que a região
da Amazónia onde tra-
balha poderá, um dia,
atrair centenas de turis-
tas por ano para visitar
os ninhos de harpia.
Isto seria uma bênção
para as aves de rapina e
inúmeras outras espécies
da floresta, bem como
para as comunidades
que ali vivem.


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