National Geographic - Portugal - Edição 235 (2020-10)

(Antfer) #1

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calçasimpermeáveis e galochas para empreen-
dermosa travessia. Calculo mal o meu primeiro
passo,caio dentro de água e trepo de gatas até
à margem da ilha, encharcado e cheirando a
águaestagnada. “Bem-vindo à Ilha dos Dinos-
sauros!”, exclama Sarah, com um sorriso de ore-
lha a orelha.
Aninhadas entre os fetos e as camas de musgo
esponjosas, as esculturas verde-pálidas são impo-
nentes, quase imperiais. Os dois exemplares de
Iguanodon, um herbívoro do Cretácico, existentes
no parque assemelham-se a iguanas gigantes com
protuberâncias no focinho: hoje, os cientistas sa-
bem que eram espigões que os animais possuíam
nos polegares. Sentimo-nos tentados a desvalori-
zar a exposição, como algo ultrapassado ou saído
de um filme de segunda qualidade. Mas Susan-
nah Maidment aprecia os dinossauros do Crys-
tal Palace por aquilo que verdadeiramente são: a
vanguarda do conhecimento científico da época,
com base em comparações entre animais vivos e
os poucos fósseis que então se encontravam ao
dispor dos investigadores.

tardefriadeJaneiro,SusannahMaidmentcon-
templaum bando dedinossauros,apartirdas
margensdeumlagodeLondres.
CuradoranoMuseudeHistóriaNaturaldoRei-
noUnido, Susannahveiocomigo numpasseio
pelo Crystal Palace Park, onde, em 1854, foi apre-
sentada ao público a primeira exposição mundial
de dinossauros. As esculturas expostas foram
então um êxito retumbante e desencadearam a
dinomania que existe desde então. Mais de um
século antes de Steven Spielberg espantar o mun-
do com “Parque Jurássico”, os dinossauros de
Crystal Palace atraíram dois milhões de visitan-
tes por ano durante três décadas consecutivas e
Charles Dickens referiu-se a um deles no seu ro-
mance “A Casa Sombria”.
Para nos proporcionarem uma observa-
ção pormenorizada destes monumentos com
166  anos, Ellinor Michel e Sarah Jayne Slaugh-
ter, administradoras da organização sem fins
lucrativos Liga dos Amigos dos Dinossauros de
Crystal Palace, guiam-nos através de um portão
metálico até às margens do lago, onde vestimos


Este Mantellisaurus,
escavado em 1914 e
exposto no Museu de
História Natural do
Reino Unido, foi
identificado como um
Iguanodon antes de os
cientistas o reconhece-
rem como género
autónomo, em 2007.
Com cerca de 125
milhões de anos, o
esqueleto é um dos
mais completos alguma
vez encontrados no
Reino Unido.
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