National Geographic - Portugal - Edição 235 (2020-10)

(Antfer) #1
REIMAGINANDOOSDINOSSAUROS 17

Num laboratório da Uni-
versidade Hassan II, em
Marrocos, Nizar Ibrahim
(ao centro) debruça-se
sobre os recém-acha-
dos ossos de Spinosau-
rus, juntamente com os
paleontólogos Simone
Maganuco (à esquerda)
e Cristiano Dal Sasso.
“O estudo de um fóssil
é, para mim, uma espé-
cie de criação”, diz Dal
Sasso. “É preciso ressus-
citar um animal a partir
de fragmentos.”


de encontrar mais fragmentos da criatura. A es-
cavação foi dificílima. Vários membros da equi-
pa foram hospitalizados por exaustão depois de
regressarem a casa. Alimentados com Nutella e
com as promessas do achado, porém, começa-
ram a descobrir vértebra após vértebra da cauda
do Spinosaurus, por vezes com poucos minutos
e centímetros de intervalo. Os escavadores senti-
ram-se tão eufóricos com a abundância de fósseis
que inventaram ritmos de percussão com os seus
martelos e desataram a cantar.
Com o formato de um remo com cerca de cin-
co metros de comprimento, o apêndice desenter-
rado, publicado este ano na revista “Nature”, é a
mais revolucionária adaptação aquática alguma
vez encontrada num dinossauro predador de
grande porte. “Este achado vai tornar-se um sím-
bolo, um ícone, da paleontologia africana”, resu-
me Nazir Ibrahim.

A


HISTÓRIA DO SPINOSAURUS, com as
suas paisagens desérticas e o seu
enredo histórico, parece extraída de
um guião cinematográfico. Porém,
a análise posterior da cauda do fós-
sil tem demonstrado como o estudo
actual dos dinossauros é agora mar-
cadamente diferente.
No âmbito do seu trabalho, Nazir viajou de Ca-
sablanca a Cambridge (EUA), para visitar o labo-
ratório do biólogo George Lauder na Universidade
de Harvard. George gosta sempre de dizer que não
é paleontólogo. Especializou-se em estudar a for-
ma como os animais aquáticos se deslocam den-
tro de água, utilizando câmaras de alta velocidade
e robots para descobrir como nadam. Para testar
o Spinosaurus, monta uma reprodução da cauda
do dinossauro em plástico cor de laranja, com 20
centímetros de comprimento, numa vareta me-
tálica anexada a um transdutor de força, parte de
uma “asa” robótica pendurada no tecto.
“Parece um mecanismo de tortura medieval”,
graceja Stephanie Pierce, a paleontóloga de Har-
vard responsável pela concepção e execução das
experiências, enquanto George Lauder baixa o ro-
bot e o encaixa numa calha.
Uma vez submersa, a cauda montada ganha
vida, abanando para trás e para a frente e trans-
mitindo os dados do aparelho aos computadores.
Os resultados demonstram que, dentro de água, a
cauda do Spinosaurus teria uma força propulsio-
nadora oito vezes superior às caudas dos dinossau-
ros terrestres afins. (Continua na pg. 30)
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