VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA - ANO 1 - Nº 3

(MARINA MARINO) #1
Caroamigo,Bento,
Saudações!

Nesta tarde, muito chuvosa, por

sinal, o que muito aprecio, ouvia boa


música (Popular Brasileira e


internacionais das décadas de 70 e 80 ),


quando percebi, feliz, que estava em
ótimas companhias: as lembranças.


Tomava café quente e olhava a chuva


quando me lembrei daquele episódioem


que, ainda muito crianças, subimos, em


nossas endiabradas bicicletas,aminha, a


Roxinha, a sua, a Futrica, e fomos em
direção à serra. Era tardezinha e íamos


voandoemnossasinseparáveisamigasde


duasrodas.


Subimos a serra rapidinho, pelas

trilhasentre matafechada equando, nos


demosconta,tínhamosidomuitolongee


do alto da serra avistávamos a cidade já
encoberta por uma tempestade. A chuva


estava às nossas costas e não a vimos


chegar. Tarde demais. Ela nos pegaria.


Sentamos um ao lado do outro, com as


magrelasnochão,comosedescansassem


dacorrida“pauleira”,pinotesesaltos.
Ali sentados, de olho no temporal,


sentimos medo. Como voltar? A


tempestade, a descida íngreme... Não


assumimos. Tivemos vergonha de dizer


umaooutro,massentimosmedo.


.


Aofinaldascontas,chegamosem
nossas casas vivos, porém esfolados,
ensopados, enlameados e assustados.
Masfelizesporestarmosinteiros.Nem
mesmoospuxõesdeorelhasdenossas
mãesdoeramtanto.Alívio.

Em meio a esse rio de
recordações resolvi lhe escrever esta
carta,demodo quecombinasse como
momento. Pois nenhuma plataforma
moderna de comunicação seria tão
eficiente em traduzir fielmente esse
pedaço de memória do coração. Para
queaviagemfosseperfeita,utilizei-me
de mais uma importante ferramenta:
sentei-me diantea escrivaninha, estilo
provençal, de meu avô, o italiano
Giusepe, o velho Pepe, e me pus a
escrever.
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