Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1
OPINIÃO

Vinhos fáceis, preços mode-
rados e rótulos elegantes terão
um bom desempenho neste
setor, especialmente se puderem
ser encontrados em restaurantes
e bares de Hong Kong vocacio-
nados para o Instagram. Não é
segredo que os millennials são
mais influenciados pela garrafa
e design do rótulo do que outras
gerações, de acordo com pes-
quisas recentes de Silva e Santos.

A elevação do segmento médio

Este cluster inclui profissionais e expatriados à
procura de vinhos acessíveis para o quotidiano, que
possam consumir em casa ou pedi-los em cartas de
vinhos à hora de almoço. Este grupo de consumidores,
viajado e educado, conhece Portugal e os seus vinhos
através do trabalho e de períodos de estudo na Europa.
A chave para alcançar este segmento é tornar os
vinhos acessíveis e pronunciáveis, com pistas reconhe-
cíveis ou recomendações de fornecedores de vinho.
Procuram vinhos premium de grande valor - e uma
forma de comunicar valor e premiumização é através
dos prémios. “Relacionado com o preço, descobrimos
que os prémios que conferem credibilidade ao vinho
são um elemento adicional de vantagem competi-
tiva para o produtor, pois aumentam a qualidade
do vinho aos olhos do consumidor”, notam Silva e
Santos. Concursos regionais, como o Cathay Pacific
Hong Kong International Wine & Spirit Competition,
são particularmente úteis na consideração dos pala-
dares locais. Em 2019, o Alfaiate Branco de José Mota
Capitão conquistou o troféu de prata na sua categoria,
além de dois bronzes na categoria gastronomia e
vinhos pelos seus acompanhamentos com sashimi de
atum chutoro e tempura de camarão.

O poder do estudo

Os residentes de Hong Kong valorizam muito a
educação e os cursos sobre vinho são altamente pro-
curados. A cidade alberga um dos maiores grupos
mundiais de detentores de certificados e diplomas
WSET. Não é suficiente para esses consumidores sim-
plesmente beber os vinhos, pois procuram uma com-
preensão mais ampla, para que possam fazer as suas
escolhas de compra com confiança e discutir o vinho
em jantares.
Alguns dos cursos mais populares da MWM
Wine School destacam países com terroirs altamente
diversos, castas históricas e ampla variedade de estilos.
Os alunos pedem vagas em programas com tutoriais
aprofundados sobre vinhos italianos regionais, bem
como de países menos conhecidos, como Geórgia e

Áustria. Um programa educa-
cional de nível mundial sobre
a beleza, a história e os sabores
luxuriantes de Portugal é apenas
o bilhete para apelar a este
grupo. Vinhos portugueses inte-
ressantes, como os Maritávora e
Howard’s Folly, são valorizados
por este segmento de consumi-
dores.

Colecionadores

O Douro tem um lugar espe-
cial entre os colecionadores de Hong Kong, conhe-
cedores de vinhos que admiram a elevada estrutura
e longevidade dos vinhos tintos. A região do Douro
é reconhecida neste segmento e é, na maioria das
vezes, citada como berço dos melhores vinhos não
fortificados de Portugal, sendo que a sua reputação é
reforçada pelo vasto conhecimento deste grupo sobre
Vinho do Porto.
Os colecionadores de Hong Kong gastam e parti-
lham generosamente, mas esperam construir amizades
diretamente com os produtores e proprietários das
melhores quintas e querem divertir-se ao fazê-lo. Os
Douro Boys têm tido o sucesso mais evidente em Hong
Kong junto dos colecionadores de vinho, em parte
devido a uma engenhosa campanha promocional, mas
também à camaradagem e entusiasmo propalados por
estes cinco produtores durante as suas visitas regu-
lares a Hong Kong.

Histórias de origem

Acima de tudo, a chave para o sucesso de Portugal
em Hong Kong passa por melhorar a perceção geral
do país e a sua imagem de marca. O país de origem
é, segundo Silva e Santos, muito valorizado pelos
clientes, informados e exigentes na tomada de decisões
de compra, mas tem também potencial para valorizar a
imagem de Portugal em todos os segmentos. O marke-
ting genérico por institutos de vinhos tem o poder de
ajudar os países a expandir e fazer crescer no exterior
as marcas de vinho.
Embora os mercados internacionais pareçam dis-
tantes neste momento, o mundo acabará por reini-
ciar e, quando isso acontecer, será um lugar diferente.
Recomeçar num mercado de vinhos maduro como é
o de Hong Kong cria oportunidades; a paisagem será
remodelada. Os protestos e a pandemia podem ter
rebentando por agora a ‘bolha’ social, mas Hong Kong
sabe como recuperar e teremos muitas garrafas para
abrir quando sairmos do nosso casulo corona. Agora
é a hora de antecipar qual o caminho a seguir e com
quem se deseja conectar quando as fronteiras rea-
brirem. Embora os mercados e os clientes variem, o
nosso amor pela cultura do vinho é universal.

Os prémios que conferem


credibilidade ao vinho


são um elemento


adicional de vantagem


competitiva para o


produtor, pois aumentam


a qualidade do vinho aos


olhos do consumidor.


Debra Meiburg MW

16 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos

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