Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1

C


omo aconteceu a tantas outras pessoas,
a minha vida profissional mudou drama-
ticamente nos últimos seis meses. Antes,
envolvia viagens frequentes e, depois,
de regresso a Londres, uma agenda
preenchida de provas. Era também incrivelmente
social. Isso, é claro, mudou: agora as viagens estão
preenchidas com restrições de quarentena e já não
há muitos quem organize eventos, substituídos que
foram por provas via Zoom, Teams e Instagram Live.
O negócio do vinho depende das provas. Os produ-
tores e agentes querem que os vinhos que produzem
ou representam sejam avaliados por jornalistas e
adquiridos por retalhistas e restaurantes. A maneira
mais simples de fazê-lo é promover grandes provas
nas principais cidades. Por exemplo, um importador
pode fazer uma prova de todos os vinhos do seu catá-
logo. Ou uma entidade genérica como a ViniPortugal
pode realizar uma prova anual de vinhos portugueses
em Londres. Até à Covid-19, o calendário de provas
de Londres era movimentado e em qualquer lado de
Londres haveria uma prova na maioria dos dias da
semana. Tudo isso parou repentinamente em março.
Recentemente, porém, as provas físicas foram
retomadas. Tem sido interessante ver como os orga-
nizadores responderam aos desafios de tornar esses
eventos seguros para todos e, portanto, viáveis.

Retoma lenta

O primeiro evento de vinhos em que participei após
o confinamento foi, na verdade, um festival interna-
cional. Foi a décima sétima edição do Gerard Bertrand
Jazz Festival, realizado no Château L'Hospitalet em
La Clape, Languedoc. Pude provar alguns vinhos,
mas cara a cara com os produtores. O resto do fim de
semana envolveu jantares e espetáculos. Em resposta
à Covid, os jantares não foram em regime de bufete,
como nos anos anteriores, mas com serviço à mesa.
E nos concertos estávamos todos de máscara. Foi
muito estranho entrar novamente num avião, mesmo
que para um pequeno salto ao sul da França. Mas foi
muito importante ver as vinhas e provar os vinhos no
local.
No Reino Unido, a primeira prova de vinhos da
qual participei foi realizada pela Majestic Wine,
um retalhista nacional que vende vinhos de preços
médios a altos em diversos armazéns e lojas. Isso foi
em julho e os promotores foram devidamente caute-
losos, tendo apenas dois provadores na sala em simul-
tâneo, na sua sede, onde poderiam controlar o acesso
e instituir um sistema unilateral. Na verdade, é muito
bom provar num ambiente assim porque é silencioso
e o nível de concentração é maior. Disponibilizaram
meios de transporte de e para o local do evento, já

Provas de vinho


em tempos de corona


As provas de vinhos físicas foram retomadas. Tem sido interessante ver como os
organizadores responderam aos desafios de tornar esses eventos seguros.

OPINIÃO

Jamie Goode

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International
Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e, muito em breve, também na brasileira Gula.

18 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos

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