Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1
que os transportes públicos
eram desencorajados para
todos, exceto os trabalhadores
essenciais.
Em agosto, fiz uma segunda
viagem, desta feita para a
Alemanha. Foi a prova VDP
Grosses Gewächs em Wiesbaden. O VDP é uma orga-
nização privada que reúne muitos dos principais pro-
dutores germânicos e a sua prova anual é um ponto
alto do calendário. Realizada durante três dias em
agosto, foi brilhantemente organizada e foram postas
em prática várias medidas especiais para torná-lo
seguro. Cada provador sentou-se na sua mesa, distan-
ciado de todos os outros. Os vinhos foram servidos
à mesa por funcionários de luvas e máscara. Havia
um sistema unilateral em operação para que nin-
guém ultrapassasse ninguém caso tivesse que entrar
ou sair. Nos momentos em que nós, provadores, não
estávamos nas nossas ‘estações’ de prova, tínhamos
também que usar máscara. Houve alguns eventos
noturnos, mas foram realizados ao ar livre e o distan-
ciamento social foi incentivado.
E agora, em setembro, a temporada de provas em
Londres começou de novo, embora provisoriamente.
Todos os organizadores têm feito um grande esforço
para tornar as coisas seguras, principalmente res-
tringindo o número e estimulando o distanciamento
social. Há duas semanas, participei em Londres na
organização de uma masterclass para vinhos da
Borgonha, que envolveu três provas comentadas
sobre diferentes temas, para um grupo de 30 som-
meliers e comerciantes de vinhos. Todos estavam
sentados à mesa, distantes dos outros provadores, e
tinham que usar máscaras quando não estavam nas
suas mesas. Estávamos todos um pouco nervosos
por nos aproximarmos demais e, no almoço, foram
entregues refeições individuais que os participantes
comeram nas suas mesas. Funcionou bem e todos se
sentiram confortáveis e seguros.
Mais recentemente fiz duas provas num único
dia, nas quais os organizadores tomaram direções

ligeiramente diferentes. O Tesco
é a maior rede de supermer-
cados do Reino Unido e realizou
a sua prova para a imprensa
com aquela que terá sido talvez
a abordagem mais impressio-
nante para a segurança Covid
que já vi. Eram mais de 100 vinhos, mas como pro-
vadores não precisávamos de nos mover ou tocar nas
garrafas. Em vez disso, tínhamos um porta-copos que
ocupava seis copos em posições numeradas e indi-
cava quais os vinhos do ‘line-up’ que queríamos em
cada um, através de um post-it numerado de 1 a 6.
Estes eram servidos pela equipa e todos provaram
na nossa própria ‘estação’, distanciada de todas as
outras. Se alguém se movimentasse, havia setas no
chão indicando a direção a seguir. Também nesse dia,
a The Wine Society realizou a sua prova anual, com
80 vinhos, que teve lugar numa sala razoavelmente
grande em Pall Mall 67 e os provadores tiveram inter-
valos de duas horas, com quatro provadores de cada
vez.
As provas internacionais foram quase todas cance-
ladas: a última vítima foi o Douro Primeira Prova, que
estava prevista para outubro. Em vez disso, os jorna-
listas de vinho fazem muitas provas via Zoom, junta-
mente com produtores de outros países. Funcionam
muito bem quando a tecnologia é boa. A maioria
está em casa e recebemos as garrafas ou as amostras
cuidadosamente preparadas em garrafas pequenas:
inovou-se bastante na preparação de amostras de
menores quantidades, mas mantendo os vinhos
em boas condições. Mas, recentemente, a Penfolds
realizou uma prova dos seus melhores vinhos com
pequenos grupos de provadores no Pall Mall 67, com
o enólogo-chefe Peter Gago, vindo da Austrália para
falar sobre os vinhos.
É um novo normal, mas o mundo do vinho está a
adaptar-se. Pessoalmente, mal posso esperar que as
viagens internacionais retomem e possa visitar as
vinhas. Portugal está no topo da minha lista.

OPINIÃO

Na verdade, é muito


bom provar num


ambiente com apenas


dois provadores na sala


em simultâneo, porque


é silencioso e o nível de


concentração é maior.


Jamie Goode

20 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos

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