Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1
José João Santos, jornalista e crítico de vinhos

O


ano de 2019 foi particularmente bon-
doso para os vinhos brancos portu-
gueses. À medida que os provo é difícil
não lhes enaltecer a frescura, o equi-
líbrio e a profundidade generalizada
que apresentam, sem diferenças abissais por entre
as regiões. Nos próximos meses haverá certamente
oportunidade de conhecer muitos mais vinhos dessa
vindima, provavelmente com graus superiores de
complexidade, o que me leva a arriscar um vaticínio –
2019 poderá afirmar-se como o grande ano de vinhos
brancos portugueses da última década.
Os vinhos nacionais têm evoluído bastante, ainda
que nem sempre à velocidade que desejaríamos
porque, na loucura da voracidade do nosso tempo,
queremos que tudo aconteça depressa, bem depressa
e bem. Se há muito Portugal é reconhecido por ela-
borar dos melhores fortificados do mundo, desde
meados de 90 tem convencido crítica e consumidores
internacionais sobre a qualidade dos tintos, capazes
de ombrear com qualquer outro exemplar dessa tipo-
logia, de qualquer outro lugar. Mas, a grande (r)evo-
lução a que assistimos nos últimos anos é no elevar
dos vinhos brancos.
Deixou de fazer sentido ir de cabeça baixa ou

discurso titubeante no momento da apresentação de
um vinho branco português perante uma audiência
internacional. Muitos obrigam a uma explicação
acrescida, na medida em que é ilusório pensarmos
que seremos reconhecidos pelos Chardonnay ou
Sauvignon que elaborarmos. Precisamos trazer essas
audiências à geografia portuguesa, presencial ou
mentalmente, explicar-lhes a linha atlântica de fazer
inveja que possuímos, as vinhas plantadas em locais
demenciais em ilhas que estão no meio do oceano,
as vinhas de montanha do interior, sem esquecer as
cepas velhas e os vinhos de colheitas antigas que resis-
tiram a tudo e que hoje glorificamos. Esqueçamos as
castas que o mundo sabe de cor e centremo-nos nessa
geografia e no exotismo de nomes quase impronun-
ciáveis – algum americano pronuncia com rigor o
nome das castas gregas, cujos vinhos brancos tanto
têm dado que falar?
Pela geografia, pelas variações climáticas de ter-
roirs e pelo potencial genético de castas autóctones,
Portugal reúne um assinalável conjunto de variáveis
que lhe permitirá afirmar-se igualmente enquanto
produtor de vinhos brancos de grande qualidade,
podendo os 2019 ser um relevante cartão de visita
que o demonstra inequivocamente.

José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita,
da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra".

OPINIÃO

Os grandes brancos


de 2019


Pela geografia, variações climáticas de terroirs e potencial genético de castas
autóctones, Portugal reúne um assinalável conjunto de variáveis que lhe permitirá
afirmar-se igualmente enquanto produtor de vinhos brancos de grande qualidade,
podendo os 2019 demonstrá-lo inequivocamente.

22 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos

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