Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1
CASTA

Touriga,


a portuguesa


texto Marc Barros / foto arquivo

A mais representativa das castas portuguesas, que hasteia bem alto a valia das castas do
país nos mercados internacionais, diz-se oriunda do norte de Portugal, nomeadamente do
Dão, onde teria a designação Preto Mortágua ou Tourigo. Do Dão, onde é responsável pela
produção de vinhos de imensa finura e elegância, e do Douro, que se encarrega de fazer
valer os seus taninos delicados, a casta passou rapidamente a ter representatividade nacional,
fazendo jus ao seu nome.
Conta hoje com 13.000 hectares, ou seja, 7% do encepamento total, sendo a terceira casta
mais plantada do país, ombro a ombro com a Touriga Franca. Mas já é possível encontrá-la
dispersa pelo (velho e novo) mundo vitícola.
Sendo uma casta de maturação tardia, é das últimas a ser vindimada. Com boa produtivi-
dade na vinha e regular de ano para ano, adapta-se a todos os tipos de solo, pedindo apenas
muitas horas de sol e disponibilidade hídrica. Mesmo assim, garante bons níveis de acidez e
frescura, percetível aromaticamente pelos seus tons florais característicos, mas também pelas
notas de frutos silvestres e até herbáceas, de cor e complexidade inusitadas.
Como casta rainha, origina vinhos de enorme qualidade, a solo ou em lote, oferece exce-
lente potencial de envelhecimento, em madeira (onde mostra a sua personalidade forte e
acrescenta tanino) e na garrafa. É, naturalmente, uma variedade que transporta os vinhos
portugueses pelo mundo fora, confere notoriedade e qualidade garantida. Mereceria ser
“portuguesa” na designação?


Dicas


















Não sendo uma casta que transmita potência,
a Touriga Nacional ‘deixa-se’ ser trabalhada
de diversas formas: por um lado, mantendo
o perfil aromático típico, delicado e floral,
que pode ir além da violeta. Quem pretenda
acrescentar tanino e dimensão à casta,
encontra na utilização da madeira, com
diferentes anos e níveis de porosidade e de
tosta, parceiro dócil e competente.

É, por isso, possível descortinar uma imensa
variabilidade regional no tratamento da
casta. Apesar da sua ampla adaptabilidade,
as Tourigas não são todas iguais. No Douro,
mais tanino, concentração e fruta; no Dão,
elegância, finura e aromas do bosque; no
Alentejo, maciez no corpo e bom volume de
boca; em Setúbal, frutos vermelhos e pretos,
compota, tanino macio. E já a vemos plantada
por esse mundo fora.

Em Bordéus, é casta autorizada, sendo que o
ciclo de maturação tardia da Touriga Nacional
indica uma exposição reduzida às geadas da
primavera e às maturações do verão, quando as
temperaturas mais altas podem afetar o sabor
e a qualidade do tanino e elevar os níveis de
álcool. Na África do Sul, integra os lotes de Port
Wine Style; na Austrália, dá origem a vários
monovarietais. Espanha, Califórnia e Brasil
são outros locais onde pode ser encontrada.

As possíveis sugestões de prova da casta em
diversas modalidades (tintos, espumantes,
rosés) são infindas. Um bom exemplo são os
vinhos constantes na prova temática que pode
consultar mais à frente nesta edição. Boas
provas!

38 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos

Free download pdf