Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1
balança a vir sobretudo das cotas mais
altas em que a quebra foi de ‘apenas’
20%”. Porém, se a natureza retirou
por um lado, deu por outro - a quali-
dade é verdadeiramente excepcional, exclama Tiago.
A concentração e a intensidade são tais que, numa primeira análise
levantou algumas questões, sobretudo pelo desafio de conseguir efe-
tivamente levar a bom porto as fermentações. Nos vinhos do Douro
“será naturalmente necessário trabalho na adega para lidar com tal
intensidade mas a qualidade média é altíssima, assim como os muitos
picos de qualidade em diversas vinhas e castas”. Nos Vinhos do Porto
é um ano que apresenta “concentração imensa mas proporcional
em todas as componentes dos bagos - açúcares, aromas, compostos
fenólicos, acidez, garantindo intensidade mas também um equilíbrio
notável”. A Touriga Franca “é uma das castas que marcam o ano, quer
pela quebra e por ter sido a maior vitima do fenómeno de desidratação
brusca... quer pela intensidade e qualidade absolutamente magnífica
dos seus vinhos”, resume.
Na região de Trás-os-Montes, a previsão apontava para um decrés-
cimo na produção de 20% (118 mil hectolitros, mesmo assim 7% acima
da média das cinco últimas campanhas), que resulta do facto da pro-
dução do ano anterior ter sido acima da média e também devido ao
míldio, ao oídio e, neste último período, ao escaldão.

Bairrada, Dão e Beira Interior

A Bairrada apontava para um aumento de produção de 10% (175 mil
hectolitros), mesmo que as “condições climatéricas com temperaturas
elevadas, precipitação durante vários dias e as recentes humidades
matinais” tenham sido favoráveis ao desenvolvimento de pontuais
focos de míldio. A vindima para base espumante decorreu, na generali-
dade das casas, na primeira semana de agosto, o que corresponde a uma
antecipação de 10 dias face a 2019. Foi o caso de Carlos Campolargo,
que iniciou a vindima a 6 de agosto, mostrando-se “satisfeito” com a
qualidade e a acidez das uvas para vinho base. No cômputo geral, com
a vindima concluída na penúltima semana de setembro, verificou-se
uma forte quebra quantitativa, em que “as maturações foram afetadas
pelas condições atmosféricas”, pelo que “a expetativa não é grande,
mas em todos os anos, mesmo os mais difíceis, há bons vinhos”, asse-
gura.
Osvaldo Amado regista na Bairrada uma quebra na ordem dos 15 a
20%. O inverno foi “tido como normal, com boa reposição dos níveis
hídricos. Seguiu-se uma primavera chuvosa, o que requereu atenção
redobrada em termos fitossanitários. O verão foi quente e seco, o que
veio a determinar uma antecipação da época de vindima”, concluiu
Osvaldo. Resumindo, e numa primeira análise, “tudo leva a crer que
o ano de 2020 será de boa memória”, antecipa. “Os brancos e tintos
mostram maturação fenólica e alcoólica de qualidade, o que nos leva a
pensar que este será um ano de excelência”. Quanto às castas Arinto,
Bical e Maria Gomes “regista-se um equilíbrio quase perfeito”, com
teores alcoólicos na ordem dos 12 a 13% de volume, com uma acidez
total e pH bem equilibrados. Quanto à casta Baga, “tirando algumas
zonas da Bairrada onde foi notória a desidratação, tudo o resto aponta
para ser um excelente ano” desta “casta identitária desta região”, com

“distinta maturação e excelente equi-
líbrio”.
Por sua vez, no Dão era antecipada
uma descida na produção de 20%
(206 mil hectolitros) resultante de geadas tardias e de ataques de
míldio que ocorreram em algumas zonas da região. Segundo Beatriz
Cabral de Almeida, enóloga da Quinta de Carvalhais, “o ano climático
que passou registou características típicas do Dão, com chuva e frio no
inverno e calor no verão”. De realçar, contudo, “as geadas em alguns
dias de inverno que fizeram com que algumas plantas vissem a sua
produção ameaçada. O verão foi quente e seco, com uma boa chuvada
a cair em meados de agosto, permitindo às videiras, com sede, adiantar
a maturação das suas uvas”.
Com a vindima a decorrer e início de três dias de chuvas a 18 de
setembro, “a quantidade de uva que foi vindimada tanto na Quinta dos
Carvalhais como a que foi entregue pelos viticultores com quem traba-
lhamos, foi menor do que estávamos à espera”. Contudo, “a qualidade
nunca esteve em causa! As uvas chegaram à adega com um aspeto
muito são, com boa fruta e frescura. A colheita de uva na Quinta dos
Carvalhais está já a terminar, sendo que estamos a vindimar apenas
25ha dos 50ha de área total de vinha da propriedade – metade da
vinha foi replantada depois dos incêndios de 2017. Neste contexto, e
apesar de ser menor do que o que esperávamos, a quantidade está ali-
nhada com as necessidades identificadas”.
A vindima em Carvalhais começou a 26 de agosto com a casta Gouveio,
seguindo-se Encruzado. “Tanto as castas tintas como as brancas che-
garam à adega muito sãs e deram origem a mostos muito frescos e
equilibrados: brancos muito suaves, frescos e com textura, e tintos
com fruta preta e vermelha fresca, boas notas vegetais e estrutura ele-
gante”, concluiu Beatriz.
Já na Beira Interior, a previsão apontava para uma produção seme-
lhante à campanha passada (256 mil hl.), sendo que alguma quebra de
produção devida à geada, neve e granizo, foi compensada pelo aumento
de produção nas vinhas jovens. Porém, Rodolfo Queirós, o presidente
da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI), atualizou
estes dados, referindo uma quebra de 10 a 15% relativamente a 2019,
para um volume entre 22 milhões e 22,5 milhões de litros.
Segundo o responsável, a quebra prevista na produção de vinho deve-se
ao facto de “em finais de março e início do mês de abril ter ocorrido
geada generalizada na região” e a “um episódio de granizo e de ventos
fortes, registado no último fim de semana de maio, que causou grave
prejuízo em vinhas das zonas do Fundão, Covilhã e Belmonte”. Por seu
turno, as uvas apresentam-se “em bom estado sanitário”.
Na região Terras de Cister esperava-se uma redução de 35% na pro-
dução, para 39 mil hl.. As fortes geadas no início do ciclo vegetativo,
aliadas a uma queda de granizo numa fase posterior, contribuíram para
a acentuada quebra na produção.

Tejo, Lisboa e Setúbal

No Tejo as primeiras estimativas davam conta de um aumento da
produção (+5%), ou seja, cerca de 61,6 milhões de litros, pelo que a
campanha deverá resultar na produção de 647 mil hl.. Segundo a CVR
Tejo, “a ocorrência de precipitação na altura da floração, temperaturas

Após uma chuva a 20 de agosto,


aparentemente bem-vinda para ajudar a


fazer face ao calor estival... rapidamente


o processo inverteu-se e começa a


verificar-se uma desidratação galopante


nos bagos em diversas vinhas, com


particular incidência na Touriga Franca


nas cotas mais baixas do Douro.


VINDIMA 2020

50 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020

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