Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1

elevadas durante longos períodos nos meses de junho, julho e agosto”
e de alguma chuva em setembro, durante a vindima, “em pouco afetou
o desenvolvimento das uvas”.
As vinhas mostravam-se “saudáveis no início da vindima”, no final
de julho, e o verão “teve muitos dias consecutivos de calor acima
do normal, mas sem chegar aos valores de 2018, quando houve
escaldão”. A casta Fernão Pires foi a primeira a ser vindimada e as
castas brancas estavam vindimadas em meados de setembro. Também
por esta altura, 80% das variedades tintas foram colhidas, pelo que o
período de chuvas de setembro não influenciou a vindima.
Por sua vez, em Lisboa as perspectivas eram para um acréscimo de
5% na produção, superando um milhão de hl.. Os focos localizados
de míldio e oídio não perturbaram a qualidade sanitária das uvas. O
enólogo Jaime Quendera, mais conhecido pelo trabalho desenvol-
vido na Península de Setúbal, é também responsável pelos vinhos da
Fundação Stanley Ho, em Colares, referindo que a sua especificidade,
com “o clima frio e a regularidade térmica dada a proximidade do mar,
permitiu obter boas maturações”.
Na Península de Setúbal os números do IVV davam conta de um
aumento de produção de 5%, ou seja, 529 mil hl. De acordo com
Jaime Quendera, “com 70% da vindima efetuada, incluindo a totali-
dade dos brancos”, verificou-se um pequeno decréscimo de produção,
“numa colheita que classifica normal, com boa qualidade, frescura e
equilíbrio”. Uma vez que “o verão foi mais fresco, não houve risco
de paragem de maturações, que foram por isso mais homogéneas e
os mostos mostram-se equilibrados, com boa acidez”. Também nos
tintos, “com grande parte das castas vindimadas, como Aragonez,
Touriga Nacional, Trincadeira, Pinot Noir, Merlot, as maturações
foram homogéneas e as uvas de qualidade”.


Alentejo, Algarve e ilhas


A produção no Alentejo foi também ela idêntica, em termos de volume,
ao ano anterior, assegura Jaime Quendera, ou seja, quedando-se em
torno do milhão de hl. produzidos. As vinhas, de uma maneira geral,
apresentam bom desenvolvimento vegetativo e estado sanitário. Já no
Algarve, a previsão de produção aponta para um aumento de 15%, ou
seja, 16 mil hl., sendo que alguns focos de oídio não comprometeram
o aumento da produção esperado devido ao bom desenvolvimento
vegetativo das vinhas, que antecipa uma colheita de boa qualidade.
Na região da Madeira estimava-se um aumento de produção de 5%,
para cerca de 4.200 toneladas de uva. Na generalidade, as vinhas
apresentaram-se em bom estado fitossanitário; contudo, na costa
norte foram detetados focos pouco expressivos de míldio, de oídio e
de podridão negra (black rot).
Nos Açores a previsão global é de uma diminuição de produção de
15%, para 11 mil hl. Ao nível do desenvolvimento vegetativo das vinhas,
a floração foi severamente afetada, implicando desde o início perdas
na produção agravadas pelo vingamento irregular. Nos meses de maio
e junho verificaram-se ataques moderados de míldio e de oídio e as
chuvas de agosto prejudicaram o balanço final. Porém, a qualidade
esperada é tida como elevada. Em resumo, um ano difícil, que ficará
marcado pelos obstáculos impostos pela pandemia mas, ao que tudo
indica, reconhecido pela qualidade dos vinhos.


outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 51
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