Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1
Viajamos por cinco regiões vinícolas com um dos mais talentosos enólogos da nova
geração de Portugal, através de dez vinhos que marcaram a sua trajetória de sucesso, e
que refletem centenas e centenas de quilómetros percorridos todos os anos à procura de
autenticidade e precisão.

Diogo Lopes personifica essa nova geração de enólogos de Portugal
que viajou pelo mundo, prova vinhos de todos os continentes, é extre-
mamente curioso, alia a técnica à emoção para revelar o que o país tem
de melhor, e lança-se à descoberta das suas novas fronteiras vínicas.
É um prazer dividir a mesa com este enólogo, seja em provas téc-
nicas ou informais, pois também é um excelente garfo, para além do
virtuosismo com os copos. Talvez porque goste tanto de praticar a
harmonização vinho-alimento, a sua predileção pelos vinhos brancos
foi-se tornando indissimulável ao longo dos seus 15 anos de carreira.
Sem esquecer que Diogo foi o braço direito de Anselmo Mendes em
vários projetos, o “mestre Jedi”, como se lhe refere com humor e defe-
rência, um herói pioneiro dos grandes brancos de Portugal, de quem
recebeu o treino para procurar a “força” do terroir com a precisão e
pureza de um sabre de luz.
Nascido em Lisboa em 1978, ganhou gosto pelo campo nas visitas à
terra do avô entre a Beira Alta e a Beira Baixa. A opção pela Agronomia
foi tão natural como a sua posterior formação em enologia, não sem
antes passar por um teste de resiliência com o seu mestre e futuro
grande amigo. Conheceu Anselmo Mendes numa feira de vinhos em



  1. Na altura, foi aconselhado, para ter certeza do caminho a tri-
    lhar, a submeter-se a uma vindima completa ao seu lado. Fê-la nos
    Vinhos Verdes, uma epifania que selou o seu destino.
    Em 2003, Diogo partiu para Napa Valley, meses intensos de
    aprendizagem e novos paradigmas sobre como empregar a enologia
    e encarar o vinho. No regresso assume um novo desafio do mestre
    Anselmo em Cabeção no Alentejo, o Grou da Sociedade Agrícola do
    Vale de Joana, adega de vinhos muito promissores, mas cujo projeto
    infelizmente não vingou. Esses primeiros cinco anos da sua carreira de
    enólogo foram marcados pelo experimentalismo, pela volta a Portugal
    “com aquela vontade de mudar o mundo”, de “aprender o que não
    sabemos”, de balancear as estruturas. Permaneceu como enólogo
    residente até 2010 no Grou e, ao conhecer cada vez mais o Alentejo,
    passou a colaborar com o produtor Herdade do Menir e assinar um
    “ícone tímido” da região, o Vale de Ancho.


Pequeno grande país

A segunda fase da carreira de Diogo Lopes veio em 2010 com a
criação da AdegaMãe pelo forte grupo Riberalves, participando com
Anselmo Mendes na concepção do projeto, da construção da adega, no
plantio das vinhas e definição da linha de vinhos a elaborar, de modo
a trazer uma nova dinâmica à região de Lisboa. “A experiência que
mudou a minha vida”, segundo um mais viajado e experiente Diogo.
Uma visita à adega é obrigatória a qualquer enófilo, não somente pelo
impecável enoturismo que oferece, e talvez o melhor bacalhau que irá
comer dessa família de especialistas, mas pelos vinhos em si, cada vez
melhores e mais autênticos no seu terroir atlântico. Na Adega Mãe,
Diogo teve todo o apoio e recursos para desenvolver ao máximo a sua
técnica e talento. Percebeu ao longo destes anos que o terroir vem
antes das castas e métodos.
No uso de madeiras diferentes, por exemplo, levou os testes até à
exaustão, paralelamente com o trabalho do mestre na sua adega de
Monção. Pude com o Diogo visitar florestas de carvalho e tanoarias
em França, em 2018, e foi uma experiência fascinante aprender com
ele que, quanto mais conhecemos profundamente todas as variáveis
envolvidas e os pormenores do seu uso, mais transparente é o efeito
final no vinho.

Nascido em Lisboa em 1978, ganhou gosto


pelo campo nas visitas à terra do avô entre


a Beira Alta e a Beira Baixa. A opção pela


Agronomia foi tão natural como a sua


posterior formação em enologia.


Na estrada do vinho com


DIOGO LOPES


@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 89

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