Revista de Vinhos - Edição 371 (2020-10)

(Antfer) #1
DIOGO LOPES

Ainda nesta fase intermediária da carreira, debutou em 2010 um
projeto enológico “solo”, ao lado dos amigos Vasco Magalhães e
Carlos Coutinho, este a sétima geração da família proprietária da bela
Quinta de Guimarães na sub-região de Baião do Vinho Verde e que
detém a maior mancha contínua plantada de casta Avesso. Os vinhos
Cazas Novas ambicionam serem embaixadores desta casta peculiar na
sua expressão herbácea e mineral.
Do granito de Baião para o magma de Biscoitos em 2011, a verve de
Diogo foi fundamental para levar o mestre Anselmo Mendes a investir
com ele na recuperação da adega cooperativa local. Estivera lá em
2009 a visitar um amigo na Terceira, e ficou completamente estupe-
fato ao sentir o potencial da casta Verdelho naquelas vinhas dramá-
ticas, encurraladas por muros de pedra vulcânica negra e açoitadas
pelo aerossol de maresia do Atlântico. Após resolverem as questões
económicas que inviabilizavam a produção, entre elas o baixíssimo
valor pago aos produtores de uva que desestimulava o seu cultivo
naquelas condições de trabalho hercúleo (o preço saltou de 0,60€
o quilo para 3,50€ na parceria atual), em 2015 surgem os primeiros
vinhos Magma, reveladores ao mundo do carácter explosivo singular
daquele terroir de exceção.


Fase três, e a seguir?


Agora o ainda muito jovem Diogo Lopes está cada vez mais pronto
e forte para viver a terceira fase da sua tão promissora carreira eno-
lógica, a encarar projetos totalmente pessoais, ainda que a imagem
do mestre sempre esteja a iluminá-lo para trilhar os melhores cami-
nhos. Nos últimos dois anos assumiu um desafio grandioso no
Douro, na Kranemann Wine Estates, onde poderá realizar um
dos seus sonhos de fazer Vinho do Porto, e também dois
outros no Alentejo: na Vidigueira, a Herdade Grande do
seu amigo e respeitado agrónomo António Lança e, no
Redondo, a promissora Herdade do Freixo.
Não lançado ainda para o mercado é o resultado
de um projeto minúsculo e de excecional qualidade
de “vinho de terroir Atlântico” em Melides; e é
difícil de imaginar que ele pare por aí. O vibrante
enólogo relatou no seu imperdível blogue que
percorreu mais de 2.000 quilómetros na última
vindima para coordenar os seus sete projetos em
operação, em cinco regiões diferentes. Como um
apaixonado por vinhos brancos, diz-se encantado
pelas castas Arinto e Viosinho. Das regiões que
ainda não trabalha em Portugal, confessou que
sonhava com um retorno vínico às origens fami-
liares, na Beira Interior. E se pudesse fazer vinhos
fora do nosso país, Diogo elegeria hoje as encostas
íngremes de granito ou xisto da Ribeira Sacra em
Espanha ou os solos vulcânicos, dos quais tanto gosta,
da ilha de Santorini na Grécia. Espero que poder lá estar e
dividir com ele uma mesa com vinhos de terroir, boa comida,
conhecimento e alegria.


Diogo foi o braço direito de


Anselmo Mendes em vários


projetos, o “mestre Jedi”, como


se lhe refere com humor e


deferência, um herói pioneiro


dos grandes brancos de


Portugal, de quem recebeu o


treino para procurar a “força”


do terroir com a precisão e


pureza de um sabre de luz.


90 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos

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