Promessas vagas e orçamento enxuto ampliam desafio de prefeitos na
saúde
Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
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Autor: Cláudia Collucci
Em Mococa (SP), 8o% das mortes em 2017 foram
causadas por doenças crônicas, como as
cardiovasculares e o câncer. Já em Santa Rosa do
Purus (AC), a maior carga de óbitos são as doenças
infecciosas (vírus e bactérias), que respondem por 52%
das mortes.
Ceará Mirim (RN) tem um perfil totalmente diferente,
com índices de mortes externas (acidentes e
homicídios) 230% e 580% superiores às duas cidades,
respectivamente.
A heterogeneidade desses três municípios é um
exemplo dos desafios que os candidatos a prefeitos
terão pela frente na área da saúde, que tendem a se
agravar ainda mais no pós-pandemia devido à demanda
de atendimentos represada durante o período de
distanciamento social.
A crise sanitária fez o SUS reduzir em 1 .1 milhão o
número de atendimentos, voltando a patamares de 12
anos atrás.
Isso somado ao fato de que 69% dos municípios do país
tiveram orçamentos severamente afetados nesse
período, o que deve trazer impacto na área, segundo
pesquisa Ibope do início do mês.
O setor também sofre com os efeitos do ajuste fiscal
decorrente da Emenda Constitucional 95, que devem
causar perda de mais de R$ 30 bilhões ao SUS
em2021, segundo projeções do Conselho Nacional de
Saúde.
Muitas das propostas dos candidatos a prefeito para a
saúde não levam em conta esse cenário e repetem
promessas vagas de eleições passadas, como o
fortalecimento da atenção primária, implantação de
prontuário eletrônico e parcerias com a rede privada
para reduzir as filas de espera por especialistas,
exames e cirurgias.
Para Gabriela Lotta, professora de administração
pública da FGV, o cenário da saúde municipal será pior
no pós-pandemia. Em muitas cidades, a atenção
primária, uma das principais portas de entrada do SUS,
já vinha num processo de deteriorização, com cortes de
agentes de saúde da família e de equipes de apoio.
"A situação no pós-pandemia será catastrófica, com o
aumento da demanda reprimida dos doentes que não
foram às unidades de saúde, da procura por aqueles
que estarão com sequelas da Covid e dos que não
tiveram suas doenças diagnosticadas nesse período."
A escassez de mão de obra será um outro desafio.
Muitos municípios estão no limite imposto pela Lei de
Responsabilidade Fiscal e terão de buscar novas
alternativas.
A saída encontrada tem sido a terceirização por meios