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Roberto Lent - Novos neurônios no cérebro adulto


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O Globo/Nacional - Sociedade
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Roberto Lent Neurocientista, professor emérito da
UFRJ e pesquisador do Instituto D?0r


Uma das controvérsias mais acirradas da neurociência
tem sido se os neurônios que se formam durante o
desenvolvimento humano permanecem no cérebro ao
longo de toda a vida, ou se novos neurônios nascem em
substituição aos que eventualmente morrem. Neurônios
nascem pela divisão de células precursoras.


Mas é raro encontrá-las no cérebro adulto.


A produção de novos neurônios é comum em cérebros
mais simples, como nos répteis e anfíbios. Mas os
mamíferos aparentemente perderam essa propriedade
ao longo da evolução, não se sabe bem o porquê.


A busca por neurogênese no cérebro adulto tem sido
intensa em laboratórios de todo o mundo, e confirmou-
se em alguns animais. E uma busca relevante, porque a
produção de novos neurônios poderia ser modulada
para permitir a reativação de regiões lesadas, ou para
prevenir os desgastes do envelhecimento.


Em uma região do córtex cerebral chamada hipocampo,
em ratos, a neurogênese aí encontrada pode ser
aumentada pela atividade física, e isso repercute
positivamente no desempenho da memória desses
animais.

O problema é saber se o mesmo acontece em
humanos.

Uma série de trabalhos muito engenhosos foi realizada
com esse fim por um grupo de pesquisadores suecos há
alguns anos. Tiveram a ideia de medir a radioatividade
existente no cérebro de adultos que morreram aos 60-
70 anos de idade.

Quando jovens, essas pessoas viveram o período dos
testes com explosões atômicas, que resultavam em
aumento da concentração atmosférica de carbono-14.
Os ventos levavam a radioatividade direto ao pulmão
das pessoas, e dele para todo o corpo, inclusive o
cérebro. Isso durou um certo tempo, até que o bom
senso proibiu os testes nucleares, e a radioatividade
atmosférica diminuiu.

Naquele período, as células absorviam o carbono-14 em
grandes quantidades, mas ao se dividirem já com
menos radioatividade no ambiente, as concentrações
iam se diluindo cada vez mais, até sumirem. No entanto,
a célula que não se dividisse permanecia radioativa. Foi
o que aconteceu com a maioria dos neurônios, exceto
em algumas regiões, incluindo aquelas identificadas em
animais. Menos radioatividade nos neurônios indicou
neurogênese ativa.

Pois bem. A tecnologia evoluiu, e já tem sido possível
utilizar novas alternativas para abordar essa questão. O
trabalho mais recente acaba de ser publicado por
pesquisadores americanos. Foram utilizados fragmentos
de mucosa olfatória retirados durante cirurgias do crânio
que precisavam de acesso através do nariz.

Moram ali os neurônios olfatórios, que conduzem ao
cérebro as informações desse sentido tão importante
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