Clipping Banco Central (2020-10-15)

(Antfer) #1

MÍRIAM LEITÃO - Melhora pontual e o mar de incerteza


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Economia
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Autor: MÍRIAM LEITÃO


O Brasil ainda está na pior crise econômica da sua
história, e a saída do dilema fiscal nem está esboçada.
O temor das contas públicas pode estimular a inflação
mesmo num quadro recessivo. Os bancos e as
consultorias estão diminuindo a projeção de recessão
este ano. Há dados surpreendendo positivamente,
outros que confirmam a expectativa. Mesmo no melhor
cenário, é uma recessão forte e a volta está se dando
de forma desigual e incerta. O que a atenuou foi o
auxílio emergencial que não é sustentável.


Ontem foram divulgados os números de atividade do
setor de serviços em agosto e repete-se o mesmo
quadro de dupla temperatura. Cresce 2,9% em relação
a julho, cai 10% em relação a agosto do ano passado. O
segmento que mais subiu, serviços prestados à família,
com alta de 11 ,4% , foi também o que mais caiu em
relação a agosto do ano passado, com queda de 43,8%.
Não está fácil entender o que está acontecendo na
economia. A incerteza volta a aumentar com notícias
como a de ontem, de Portugal entrando em novo estado
de calamidade e Paris em novo toque de recolher.


O economista Armando Castelar, coordenador da área
de Economia Aplicada do Ibre/FGV, define o que
estamos vivendo como um "novo não normal": - Acho
que a pandemia vai ficar como está nos próximos 12
meses, até ter vacina testada, provada e aplicada em
todo mundo. Vamos viver esse clima dos últimos meses
no qual (a pandemia) não está explodindo, mas não vai
embora. Esse novo "não normal" mostra vendas de
comércio recuperando bastante pela internet, com
menos gente nos shoppings. Em São Paulo, tem gente
vendendo imóvel pela internet, incorporadoras fazem
filme, e o comprador fecha negócio sem visitar.

O economista Vitor Vidal, da XP Investimentos, diz que
nos últimos dois meses o comércio surpreendeu
positivamente, a indústria, também, mas em menor
intensidade. Os serviços vieram dentro do esperado,
com uma recuperação mais lenta e gradual. A XP
projeta recessão de 4,8% do PIB em 2020 e alta de 3%
no ano que vem, mas deve divulgar hoje números um
pouco melhores para os dois anos. Vidal lembra que
tudo dependerá da evolução da pandemia no país e de
como o governo vai resolver as disputas internas sobre
o financiamento do novo programa social.


  • Os serviços só vão recuperar mais fortemente quando
    a pandemia permitir uma reabertura maior da economia.
    E um setor com pequenos negócios e que emprega
    muito. Mas é difícil que o dono de um bar da esquina
    volte a contratar sem ter a certeza de que terá uma
    clientela firme. O que vai determinar isso vai ser a
    pandemia - explicou.


O cenário positivo, para Vitor Vidal, é de que em janeiro,
quando o auxílio emergencial chegarão fim, a pandemia
já esteja mais controlada e permita uma recuperação
mais forte desse setor. Com isso, a perda da renda das
famílias seria compensada por uma recuperação mais
forte dos pequenos negócios. Outra boa notícia, na
visão do economista, é a construção civil, que está com
saldo positivo este ano pelo Caged e pode continuar
empurrando o PIB em 2021.
Free download pdf