Clipping Banco Central (2020-10-15)

(Antfer) #1

O uso temerário de retardante no combate ao fogo no Centro- Oeste


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, aproveita
a fumaça que ofusca a paisagem do Norte e do Centro-
Oeste do país para pôr em prática, sem qualquer
discussão com a sociedade, o uso temerário de
retardantes no combate às queimadas. Adicionado à
água lançada pelas aeronaves, o produto químico, que
permite extinguir as chamas de forma mais rápida, foi
aplicado na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, onde
Salles esteve no último fim de semana.


Há dúvidas sobre o efeito do produto no meio ambiente.
E elas vêm do próprio Ibama. Como mostrou o "Jornal
Nacional", um relatório do Centro Nacional de
Prevenção e Combate aos Incêndios (Prevfogo)
alertava em julho que, depois do uso do retardante, é
preciso suspender o consumo de água, frutas e
legumes por quarenta dias na região atingida, e ela
deve ser monitorada por seis meses.


Em agosto, outro relatório do Prevfogo pôs em dúvida o
uso de retardantes em áreas como Pantanal, Xingu ou
Araguaia, onde há água em abundância. Afirmou ainda
não ser possível definir o limite seguro para que o
produto não cause mais danos que o fogo. Como já


virou praxe no governo, Gabriel Zacharias, responsável
pelos relatórios, foi exonerado.

E passou mais uma "boiada".

Embora o Ministério do Meio Ambiente tenha alegado
que o produto não é tóxico e que não há restrição na
legislação, o uso do retardante na Chapada dos
Veadeiros foi criticado pela Secretaria de Meio
Ambiente de Goiás, que disse não ter sido consultada, e
por moradores da região, que pediram a saída de
Salles. Em resposta aos protestos, o ministério divulgou
nota afirmando que "a opinião de meia dúzia de
maconheiros não era relevante". A pasta argumentou
ainda que a Chapada está sob jurisdição federal. Não
significa que Salles possa fazer o que quiser no parque.

A afobação para usar um produto químico controverso
contrasta com a leniência do ministério na contratação
de brigadistas para combater os incêndios na Amazônia
e no Pantanal. Devido a questões burocráticas e
mudanças na legislação, o governo levou quatro meses
para pôr os agentes em campo - só fez isso em agosto -
, mesmo sabendo desde o início do ano que o Centro-
Oeste enfrentaria altas temperaturas e uma estiagem
severa, condições que contribuíram para agravar os
incêndios.

Não surpreende que Amazônia e Pantanal venham
registrando recordes sucessivos de focos de incêndio
este ano, segundo o Inpe - embora o governo não
queira ver. A perda de fauna e flora é imensurável.
Negacionismo, inépcia, arrogância e administração
errática resultam no ambiente inflamável.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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