Clipping Banco Central (2020-10-15)

(Antfer) #1

Visto ,lido e ouvido


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Futuro esquecido


Para um arqueólogo atento, que resolva, num futuro
distante, prospectar os indícios e outros vestígios
materiais produzidos pelos habitantes da capital, capaz
de indicar que tipo de civilização foi erguida aqui, nestes
confins do Centro-Oeste brasileiro, sem dúvida alguma,
com exceção da moderna e engenhosa arquitetura
exibida pela cidade, e que forma uma espécie de casca
a envolver a metrópole, uma grande interrogaçãosurgirá
logo na primeira prospecção, surpreendendo o
pesquisador: como pôde uma civilização, assentada em
meio a tão futurística arquitetura, não apresentar quais
quer traços de cultura material mais relevante?


De fato ao pesquisar minunciosamente as ruas e
avenidas da mais importante cidade do país, em busca
dos elementos indicativos que comprovariam a
existência de umfervilhante movimento cultural
espalhado pelos quatrocantos da metrópole, nosso
arqueólogo chegaria a uma embaraçosa conclusão:
pouco ou nada parece existir nesse lugar que possa


confirmar ou negar a existência de uma população
envolvida e produtora de cultura.

Uma radiografia das principais ruas da cidade
mostraria,de forma taxativa, a inexistência de teatros,
centros culturais, livrarias, galerias de artes, museus e
outros centros dedicados às artes. O que nosso turista
das ciências iria se deparar, em grande profusão, e em
cada esquina, eram bares,botecos e outros
estabelecimentos no fornecimento de álcool, lojas de
quinquilharias diversas e um incontável número de
farmácias por toda a parte.

Para um pesquisador, isso denotaria, numa primeira
impressão, que ao beber em demasia, essa população
viveriaconstantemente doente e necessitada de
remédios e outrosunguentos para viver. Além dos bares
e farmácia em quantidade sintomática, a pesquisa
revelaria também a multiplicaçãodas casas lotéricas, o
que indicaria que a população vivia na esperança de
ganhar mais dinheiro para alimentar o vício do álcool.
Esses bares teriam se transformado em centros de
cultura, onde o álcool seria a atração principal.

Por outro lado, o que saltaria aos olhos e dando a
certezade que essa civilização do Centro-Oeste
desprezava a cultura e seus derivados, seria o
abandono de museus e teatros, anteriormente mantidos
pelo governo, por meio dacobrança de uma das mais
altas cargas tributárias de todoo planeta. Todos agora
fechados ou sucateados, transformados em depósitos
de materiais diversos.

Quando uma cidade permite que seu principal centro
decultura se transforme num almoxarifado de
quinquilharias eoutros objetos a serem descartados,
como um imenso galpãopara acondicionar o lixo
mobiliário da burocracia, tudo está irremediavelmente
perdido. Não há salvação para uma civilização fora da
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