Clipping Banco Central (2020-10-15)

(Antfer) #1

Roberto Macedo - O que fazer com a poupança, que segue aumentando?


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
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Autor: Roberto Macedo


No dia 20 de agosto último abordei esse crescimento
com dados até o mês anterior. Volto ao tema porque os
depósitos na Caderneta de Poupança continuaram
aumentando bastante em agosto e setembro, quando o
saldo total nas contas desse tipo ultrapassou a enorme
cifra de R$ 1 trilhão (!), cerca de 13% do produto interno
bruto (PIB).


Para uma ideia do significado desse valor, foi neste ano
que esses depósitos ultrapassaram os ativos totais das
entidades de previdência privada. Conforme a
Associação Brasileira das Entidades Fechadas de
Previdência Complementar (Abrapp), que em 2018
reunia 258 entidades, entre elas a Previ e a Petros, tais
ativos somavam R$ 944 bilhões em julho último, sem
perspectivas de ultrapassar R$ 1 trilhão este ano, pois
em 2020 caíram R$ 5,7 bilhões até julho. Até o mesmo
mês, o saldo total da poupança aumentou R$ 128,4
bilhões e subiu R$156,2 bilhões no ano até setembro.
Cresceram principalmente pela diferença entre
depósitos e retiradas, e uma parte bem menor pelos
rendimentos da poupança, que até setembro somaram


R$ 19 bilhões.

Outra razão para voltar ao assunto foi pesquisa recente
dos economistas José Roberto Afonso e Thiago Abreu,
envolvendo outro conceito de poupança, a ser
publicada na revista Conjuntura Econômica. Tive
acesso a um resumo de suas conclusões em matéria no
jornal Valor de dia 13. Essa pesquisa será referida mais
à frente.

Um aumento da poupança familiar em épocas de crise
costuma ocorrer, pois o receio de mais dificuldades à
frente estimula uma provisão maior de recursos para
enfrentá-las. O Brasil enfrenta uma seriíssima crise
econômico-social, que por si mesma pode ter
estimulado a poupança, e em cima disso veio também
um forte auxílio emergencial recebido da Caixa
Econômica Federal, que creio ser a instituição preferida
pelos que usam a caderneta. Assim, muitas contas
antigas e novas devem ter recebido parte desse auxílio.
É fator que até aqui vejo como mais importante, mas o
assunto está a exigir análise mais aprofundada, pois
pode ter havido também um aumento de depósitos não
vindos do auxílio emergencial.

Sabe-se, por exemplo, que houve uma fuga dos fundos
de renda fixa quando sua taxa de remuneração, com a
queda da Selic, em alguns casos passou a ser inferior à
da poupança, dependendo da alíquota do Imposto de
Renda incidente sobre os rendimentos desses fundos e
da taxa de administração cobrada pelas instituições
financeiras. É possível que parte dessa fuga tenha ido
para a poupança.

O Banco Central deveria fazer um amplo estudo
abrangendo esses e outros aspectos do forte aumento
da poupança, pois conhecê-los seria crucial para
examinar a possibilidade de ampliar financiamentos
imobiliários com esses recursos adicionais. Em
particular, seria preciso saber se essas fontes são
estáveis, pois se logo vierem saques desses recursos
seria arriscado seu uso para tais financiamentos,
usualmente de longo prazo.
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