Clipping Banco Central (2020-10-15)

(Antfer) #1

WILLIAM WAACK - Não faltou aviso


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

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Autor: WILLIAM WAACK


Jamais terá sido por falta de aviso. Caso o governo
brasileiro abandone o rigor fiscal em troca de
popularidade – possibilidade que mercados passaram a
considerar real –, ficará provado que, no Brasil, não só a
História pouco serve de lição. Ainda por cima se repete
como farsa cada vez mais trágica.


Parece até mesmo um ciclo maldito. Sarney se
encantou com a popularidade trazida pelo Cruzado e
prorrogou medidas “temporárias” até cair na
hiperinflação. Lula abandonou os superávits primários
depois da vitória de 2006, derrotando as consequências
do mensalão. Na doce conversa das medidas
contracíclicas para combater a crise de 2008, e atrás de
dividendos políticos, Dilma expandiu o intervencionismo
fiscal até cair nas pedaladas.


“A história se repete agora” foi uma frase muito usada
entre agentes de mercado nos últimos dias, chegou aos
andares de comando em grandes corporações e esfriou


consideravelmente ânimos de investidores. Esse estado
de espírito se consolidou no alerta feito na terça à noite
pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos
Neto, que foi contundente (para os padrões
convencionais de um “central banker”) ao admitir que a
credibilidade da política econômica do governo está
arranhada, que a fragilidade fiscal contribui para a
desvalorização da moeda brasileira e que o País já
perde fluxo de capitais por conta das políticas
ambientais.

A questão para quem toma decisões na economia,
prosseguiu Campos Neto, não são tanto os prazos de
reformas e o calendário eleitoral, mas qual a trajetória
que se pretende seguir além do fim do ano. É um ponto
de interrogação respondido até aqui com a reiteração de
um conjunto de intenções (“privatizar”, “desburocratizar”,
“avançar nas reformas”), no momento dependentes das
eleições municipais e da sucessão das duas Casas
Legislativas. Ou seja, “mañana”.

Nos círculos bem dentro do governo o aviso estridente
do presidente do Banco Central foi entendido como um
recado ao próprio Bolsonaro. Teme-se no Ministério da
Economia que o presidente se sinta em prazo não
muito distante na contingência de ter de ligar para
Campos Neto e pedir para ele não subir os juros. Pois é
o “sentir” de Bolsonaro em relação à política – nada
fazer que arrisque perda de popularidade – a principal
causa da apenas aparente dificuldade de se aprovar
matérias relevantes: “até as eleições vamos para uma
agenda de baixo custo político”, resume um dos homens
mais próximos ao presidente.

Custo político é fácil de definir: qualquer decisão em
qualquer das áreas que tem impacto direto na questão
fiscal (tributária, administrativa e do pacto federativo)
causará prejuízos a grupos organizados (econômicos,
políticos, corporativos), a entes como municípios e
Estados e a agrupamentos como igrejas. Não tomá-las
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