20 VISÃO 15 OUTUBRO 2020
HOLOFOTE
Um X-ato
familiar
Foi o dado
biográfico mais
destacado
nas primeiras
reações. Discreta
e desconhecida
por muitos,
a vencedora
deste ano do
prémio Nobel de
Literatura é filha
(e sobrinha) de
um dos inventores
da lâmina x-ato,
Daniel Glück,
descendente de
uma família de
judeus húngaros,
que se fixou nos
EUA. Além de
ser uma ótima
pergunta para
quiz, é também
uma imagem que
se ajusta à poesia
de Lousie Glück,
austera e bela,
como sublinhou a
Academia Sueca,
que lacera, corta
e rasga, contendo
em si a experiência
do indivíduo
e de toda a
Humanidade. Uma
obra que sonda
as zonas mais
sombrias da alma,
sem, no entanto,
dispensar o diálogo
com a tradição e o
humor.
Anorexia
nervosa
Muitos críticos
e estudiosos
apontam-lhe a
intensidade dos
sentimentos da
sua poesia, e
essa faceta tem
uma semente
biográfica. No final
da adolescência,
sofreu de anorexia
nervosa, fruto
também de
alguns conflitos
familiares,
sobretudo com
a mãe. Sentiu-se
doente, sem futuro,
como recordou
anos depois, em
versos e ensaios,
e fez o caminho da
psicanálise e do
autoconhecimento.
Mas, nos anos
seguintes, na
Universidade
Columbia,
conheceu os
seus mentores:
os poetas Léonie
Adams e Stanley
Kunitz.
Criação e ensino
Firstborn, o seu
primeiro livro,
saiu em 1968.
Saudado pela
crítica, anunciava
na poesia norte-
-americana uma
nova voz que se
singularizava ainda
pela apropriação
da mitologia
clássica. Depois,
no entanto,
veio o silêncio.
Durante anos, não
conseguiu escrever
e só ultrapassou
o bloqueio, como
confessou, quando
começou a dar
aulas (hoje em
Yale). Entre esses
polos se afirma
a sua obra, a
reflexão (ensino
e ensaios) e a
criação, com dez
livros já reunidos
numa antologia,
em 2012, a que
acrescentou
Faithful and
Virtuous Night, de
2014, o seu título
mais recente.
Mais um prémio
Pelo seu prestígio
e impacto
mundiais, o prémio
Nobel de Literatura
é certamente o
galardão mais
importante de
Louise Glück.
Mas não é o
único. Nos EUA,
recebeu tudo o
que podia receber
- do Pulitzer, em
1993, ao mais
recente National
Book Award. Em
2004, assumiu o
estatuto de “poeta
laureado” e, em
2015, o Presidente
Barack Obama
concedeu-lhe
uma das maiores
distinções, a
Medalha Nacional
das Humanidades.
Com o Nobel e
a garantia de
traduções, chegará
agora a mais
leitores. Será
também o caso
de Portugal, onde
Glück apenas é
conhecida por
poemas traduzidos
em duas
antologias.
LUÍS RICARDO DUARTE
NÃO ERA TIDA COMO
POSSÍVEL VENCEDORA,
MAS A SUA OBRA,
PESSOAL E UNIVERSAL,
CONVENCEU A
ACADEMIA SUECA.
AOS 77 ANOS, É PRÉMIO
NOBEL DE LITERATURA
DE 2020. UMA POETISA
A DESCOBRIR
Louise Glück A austera beleza da poesia
BRO 2020
uma semente
biográfica. No final
da adolescência,
sofreu de anorexia
nervosa, fruto
também de
alguns conflitos
familiares,
sobretudo com
a mãe. Sentiu-se
doente, sem futuro,
como recordou
anos depois, em
versos e ensaios,
e fez o caminho da
psicanálise e do
autoconhecimento.
Mas, nos anos
seguintes, na
Universidade
Columbia,
conheceu os
seus mentores:
os poetas Léonie
Adams e Stanley
Kunitz.
e só ultrapassou
o bloqueio, como
confessou, quando
começou a dar
aulas (hoje em
Ya l e). Entre esses
polos se afirma
a sua obra, a
reflexão (ensino
e ensaios) e a
criação, com dez
livros já reunidos
numa antologia,
em 2012, a que
acrescentou
Faithful and
Virtuous Night, de
2014 , o seu título
mais recente.
LUÍS RICARDO DUARTE
A DESCOBRIR