Visão - Portugal - Edição 1441 (2020-10-15)

(Antfer) #1

Heroínas anti-Covid


As governantes mundiais que
melhor lidaram com a pandemia

ANGELA MERKEL (ALEMANHA)
CHANCELER
A ex-cientista que se
doutorou com uma
tese sobre química
quântica foi das primeiras
dirigentes mundiais a
alertar para a pandemia.

K. K. SHAILAJA (ÍNDIA, KERALA)
MINISTRA DA SAÚDE
A ex-professora já
tem a alcunha de
“exterminadora de
coronavírus”, devido ao
que fez com o Nipah em
2018 e com a Covid-19.

SANNA MARIN (FINLÂNDIA)
PRIMEIRA-MINISTRA
A sua original abordagem
de recorrer às redes
socais e às influencers
ajudaram o país a
minimizar a pandemia.

KATRÍN JAKOBSDÓTTIR (ISLÂNDIA)
PRIMEIRA-MINISTRA
Ofereceu testes gratuitos
aos seus compatriotas e
aplicou um eficaz plano de
monitorização da doença.

METTE FREDERIKSEN (DINAMARCA)
PRIMEIRA-MINISTRA
Foi das primeiras
dirigentes mundiais a
realizar conferências de
imprensa regulares.

TSAI ING-WEN (TAIWAN)
PRESIDENTE
No último dia de 2019,
interditou os voos da
cidade chinesa de Wuhan
e, depois, sem ordenar
o confinamento, aplicou
um plano de 124 medidas
contra a doença.

ERNA SOLBERG (NORUEGA)
PRIMEIRA-MINISTRA
A massificação dos
testes e a forma como
comunicou – incluindo
os seus discursos para
as crianças – foram
decisivos na contenção
da doença.

56 VISÃO 15 OUTUBRO 2020


permitiu também salvar um milhar e
meio de pessoas que, de outra forma,
teriam perdido a vida devido ao vírus
da influenza. Ou seja, a quarentena e a
política sanitária do Governo produ-
ziram “uma mudança revolucionária
na forma de abordar os agentes pa-
togénicos respiratórios”, nas palavras
do epidemiologista Michael Baker,
professor na Universidade de Otago,
citado pela imprensa local.


BOICOTE À JACINDAMANIA
Jacinda Ardern vê os seus esforços
recompensados. A OMS enaltece o
exemplo neozelandês, a revista bri-
tânica The Prospect coloca-a entre
as 50 principais personalidades da
era Covid (a única dirigente política,
a par de K. K. Shailaja, ministra da
Saúde do estado indiano de Kerala),
mais de 80% dos seus compatriotas
aprovam o desempenho da dirigente
que este verão cumpriu 40 anos e ela
vê reunidas todas as condições para
continuar a bater recordes, a nível
doméstico e internacional.
Neste sábado, 17, a progressista e
feminista que se tornou primeira-mi-
nistra em 2017, e despertou uma onda
de entusiasmo logo descrita como
Jacindamania, prepara-se para obter
uma votação sem precedentes no úl-
timo quarto de século e cumprir mais
um mandato de três anos no cargo.
No entanto, não faltam kiwis (como
também se designam os naturais e os
residentes no arquipélago que está
nos antípodas de Portugal) a arrasar
o legado da dirigente cujos dotes co-
municacionais são reconhecidos por
toda a gente: “Este Governo tem sido
um fracasso em quase todos os aspe-
tos”, afirmou à revista The Economist
Oliver Marc Hartwich, diretor do New
Zealand Initiative, um think tank com
sede em Wellington. A opinião deste
analista nascido na Alemanha con-
trasta com os rasgados elogios que


grandes jornais internacionais, como
o Frankfurter Allgemeine Zeitung e
o Financial Times, têm dedicado a
Jacinda, chegando a apontá-la como
um modelo para o “futuro das de-
mocracias liberais”. Mas a argumen-
tação de Hartwich é clara e tem sido
reproduzida pela generalidade dos
17 partidos que se batem agora con-
tra a líder trabalhista. As principais
promessas feitas por Jacinda Ardern
na campanha de 2017 continuam por
cumprir: a habitação é cada vez mais
um luxo para a generalidade dos neo-
zelandeses e o número de pessoas à
espera de casa do Estado triplicou
para quase 20 mil; a luta contra a po-
breza infantil, apesar de apresentada
como uma prioridade, quase não teve
efeitos práticos; e o combate à polui-
ção e às mudanças climáticas, idem
aspas, com a líder trabalhista a dizer
que os habitantes do país poderão em
breve nadar em todos os rios e lagos
do arquipélago, comprometendo-se
a aumentar o peso das energias re-
nováveis e a atingir zero emissões de
carbono em 2050.
Os apoiantes de Jacinda desvalo-
rizam as críticas e preferem destacar
o comportamento e a empatia da go-
vernante face às catástrofes que o país
teve de enfrentar com ela na liderança:
o atentado de Christchurch, em mar-
ço de 2019, em que um supremacista
australiano atacou duas mesquitas e
assassinou 51 pessoas, na sua maioria
muçulmanas, com o objetivo de ini-
ciar um conflito étnico e religioso; e
a erupção do vulcão da pequena ilha
Branca, em dezembro, que resultou na
morte de 21 turistas estrangeiros. Tanto
num caso como no outro, ela reagiu de
imediato e com transparência, assu-
miu responsabilidades e fez jus à sua
fama de querer saber e controlar tudo
até ao último detalhe. “Ela comunica
muito bem porque tem algo realmen-
te importante para dizer. Trata-se de
uma personalidade muito sólida. (...)
Não precisa de que os apparatchiks
ponham coisas na sua boca”, afirmou
na última semana Colin James, o deca-
no dos jornalistas de política da Nova
Zelândia, ao diário australiano The
Sydney Morning Herald. Só mesmo
alguém muito seguro de si se atreveria
a dar ordens aos seus colaboradores
para rejeitarem todas as entrevistas
a órgãos de comunicação social de
todo o mundo durante a campanha
em curso. Motivo: Jacinda está farta
da Jacindamania. [email protected]

ALGUNS MÉDIA


APRESENTAM


JACINDA


COMO UM


MODELO PARA


O FUTURO DAS


DEMOCRACIAS


LIBERAIS

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