Visão - Portugal - Edição 1441 (2020-10-15)

(Antfer) #1

62 VISÃO 15 OUTUBRO 2020


a tentar falar com Hélder Vieira Dias, então
ministro de Estado e chefe da Casa Militar de
Angola, conhecido como Kopelipa. A primeira
tentativa de contacto foi em 19 de dezembro
de 2011, num momento em que Salgado estava
reunido em Lisboa com Álvaro Sobrinho, en-
tão presidente do BES Angola. Kopelipa não
atende a chamada, mas em fundo ouviu-se
Salgado perguntar a Sobrinho se se dava bem
com aquele elemento do trio mais próximo de
José Eduardo dos Santos. O homem do BESA
respondeu que se dava melhor “com o Dino”
(general Leopoldino Fragoso Nascimento).
Kopelipa devolve-lhe finalmente a chama-
da na véspera de Natal daquele 2011. O então
presidente do BES queria saber quando viria
à Europa: queria ouvir o seu conselho “acer-
ca de alguns assuntos” e nunca era de mais
lembrar que tinham “muitas batalhas pelo
mundo” e que “o BES e o GES” ainda podiam
“ajudar muito Angola”. Depois de Kopelipa
prometer que viria na última semana de ja-
neiro e agendaria o encontro, Salgado pediu-
-lhe que mandasse “saudades” suas, quando
estivesse “com o Grande Chefe”.

“TIA, NÃO QUER UM COFRE PARA AS JOIAS?”
O processo BES só é oficialmente aberto a 12
de agosto de 2014. Isabel Almeida, a diretora
do Departamento Financeiro de Mercados e
Estudos (DFME) que coordenava os esquemas
de compra e recompra de obrigações com a
Eurofin, é um dos primeiros alvos das novas
escutas, a par de António Soares, funcionário
do mesmo departamento.
Curiosamente, Isabel Almeida já tinha sido
“apanhada” antes, nas escutas da Operação
Monte Branco, quando falava com Amílcar
Morais Pires, numa altura em que se come-
çaram a descobrir as irregularidades no BES
e no GES. A 21 de julho, Isabel Almeida ligou
a dar conta de que tinha sido chamada à Co-
missão Executiva por causa das compras das
obrigações, que queriam “fazer uma inves-
tigação, para saber para onde tinham ido as
mais-valias” e, como tinha “uma bomba” nas
mãos, queria “explicar” o que tinha sido feito.
“A dívida que estava em clientes era dívida de
empresas que não tinham saúde financeira”,
desabafou. Morais Pires pediu-lhe que li-
gasse a Salgado e, na madrugada seguinte,
contou a António Soares que Isabel Almeida
se preparava “para sacudir a água do capote”.
No dia 29, Isabel Almeida confessou-lhe que
divulgou “que as obrigações Euroforro, Pou-
pança Plus e Top Renda, que tinham dívida
do GES, geraram um resultado na Eurofin”.
Pelo meio, outra funcionária do banco ligou
a Morais Pires a contar que recebera ordens
para “liquidar todos os investimentos fora de
Portugal” e também um telefonema a reco-
mendar que pusesse “o dinheiro no Paraguai”.
O dinheiro tornara-se uma preocupação

RICARDO SALGADO


TEVE TRÊS


EQUIPAMENTOS


SOB ESCUTA.


DESDE 2011 QUE


O MINISTÉRIO


PÚBLICO SABIA


DOS SUÍÇOS DA


EUROFIN E OUVIA


O BANQUEIRO


FALAR SOBRE “AS


MAÇÃS” A PAGAR


NA VENEZUELA


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Ricardo Salgado
e Álvaro
Sobrinho estão
juntos e ligam
a “Kopelipa”
[Hélder Vieira
Dias], que não
atende. Salgado
pergunta
a Sobrinho se
se dava bem
com ele. “Dava-
me melhor
com o Dino.”
19/12/2011

Salgado pergunta
a “Kopelipa”
quando vem
à Europa, pois
quer ouvir os
seus conselhos.
Refere que “o
BES e o GES
ainda podem
ajudar muito
Angola”.
“Kopelipa” conta
vir na última
semana de
janeiro. Salgado
diz que, se
estiver com “o
Grande Chefe”,
lhe “mande
saudades”.
24/12/2011
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