Visão - Portugal - Edição 1441 (2020-10-15)

(Antfer) #1

executam os seus comandos. Até as
nossas sociedades estão construídas
segundo este desenho arcaico, hie-
rarquizado e centralizado.” Um mo-
delo cuja única vantagem é fornecer
respostas rápidas. Já as plantas, não
possuindo um órgão equiparável
a um cérebro central, conseguem
percecionar o ambiente envolvente
com uma sensibilidade superior à
dos animais e respondem a esses
estímulos de forma descentraliza-
da e radicular, explica Mancuso. “A
complexa organização anatómica das
plantas e as suas principais funciona-
lidades exigem um sistema sensorial
muito desenvolvido que permita ao
organismo explorar com eficiência
o ambiente circundante e reagir
com prontidão a acontecimentos
potencialmente prejudiciais. Deste
modo, a fim de utilizarem os recur-
sos ambientais, as plantas recorrem
entre outras coisas a um complexo
sistema radicular formado por ápi-
ces em constante desenvolvimento,
que exploram de um modo ativo o
solo. Não é por acaso que a internet,
o principal símbolo da modernida-
de, está construída como uma rede
radicular”, sublinha.
É com este pressuposto que parti-
mos com Mancuso, sem preconceitos,
à descoberta de factos fascinantes.
Coisas como a memória das plan-
tas. Através da Mimosa pudica, uma
planta cujas folhas se fecham quan-
do é tocada ou abanada, percebemos
que as plantas podem distinguir tipos
de estímulos e memorizá-los até 40
dias. Como é que isso acontece em
seres desprovidos de cérebro ainda
é um mistério. Ou como dominam
a arte da manipulação dos animais
para as servir em seu bel-prazer, e
propagar e fazer perdurar as espé-
cies. Ou como conseguem ver sem
olhos, à sua maneira, percecionar o
ambiente e mimetizar o que têm à sua
volta: uma trepadeira como a Boquilla
trifoliata, consegue ter, ao mesmo
tempo na mesma planta, três aspetos
de folhas completamente diferentes
porque copia e adapta-se, “camaleo-
nicamente”, aos arbustos pelos quais
trepa para se dissimular. Ou como se
movem sem ter músculos, através de
sistemas hidráulicos de transporte de
água e vapor.
Nunca mais vai olhar para as suas
plantas da mesma forma. [email protected]


planta cujas folhas se fecham quan-
do é tocada ou abanada, percebemos
que as plantas podem distinguir tipos
de estímulos e memorizá-los até 40
dias. Como é que isso acontece em
seres desprovidos de cérebro ainda
é um mistério. Ou como dominam
a arte da manipulação dos animais
para as servir em seu bel-prazer, e
propagar e fazer perdurar as espé-
cies. Ou como conseguem ver sem
olhos, à sua maneira, percecionar o
ambiente e mimetizar o que têm à sua
volta: uma trepadeira como a Boquilla
trifoliata, consegue ter, ao mesmo
tempo na mesma planta, três aspetos
de folhas completamente diferentes
porque copia e adapta-se, “camaleo-
nicamente”, aos arbustos pelos quais
trepa para se dissimular. Ou como se
movem sem ter músculos, através de
sistemas hidráulicos de transporte de
água e vapor.
Nunca mais vai olhar para as suas
plantas da mesma forma. [email protected]


15 OUTUBRO 2020 VISÃO 67
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