Visão - Portugal - Edição 1441 (2020-10-15)

(Antfer) #1
15 OUTUBRO 2020 VISÃO 77

OPINIÃO

LUCÍLIA MONTEIRO

A ideia de que estamos perante uma
doença simples, porque não causa assim
tanta mortalidade, está a tirar o tapete aos
profissionais de saúde. Por isso, David
Neto aconselha a que a mensagem seja
transmitida de forma criativa. “Mais do
que dizer sempre a mesma coisa, é dizer
a mesma coisa de maneiras diferentes,
como usar até o humor para passar de-
terminados avisos.”
A OMS já esperava estes níveis de fa-
diga, mas põe a tónica de que é possível
“reavivar os esforços” para enfrentar
os desafios da crise. A necessidade de
contacto social enraizada leva a que os
psicólogos digam que não é exatamente
por estarem contra as regras que as pes-
soas se juntam, mas sim pelo “cansaço
do isolamento”. O perigo é essa exaustão
levar-nos a tirar o pé do acelerador da
prevenção. Houve uma mudança de com-
portamento inicial associada ao medo,
mas este não parece estar a ser suficiente
para manter essa alteração.
O facto de a pandemia se ter atraves-
sado de forma abrupta na vida de todos,
com uma paralisação quase global e um
grande sentimento de impotência perante
uma novidade em forma de doença nova
sem meios de tratamento conhecidos
nem vacina, originou incerteza, medo e
preocupação. O impacto inicial foi tão
forte que, por não ter fim à vista, nos
habituámos a viver sob uma certa bruma.
[email protected]


OE: como equilibrar o


necessário e o possível?


1


Ouvem-se as opiniões sobre o
Orçamento do Estado (OE) para
2021 e fica-se com a sensação
de que não agrada a ninguém −
exceto a quem o fez. Não agrada às
centrais sindicais e patronais, aos
partidos à esquerda e à direita do PS,
todos a manifestarem, de imediato,
oposição ou pelo menos desilusão. A
exceção foi o PSD, a declarar − com
o bom senso que hoje alguns pare-
cem considerar um “pecado”... − que
primeiro ia analisar com atenção o
documento e depois se pronunciaria.
Muitas das críticas ao OE terão ra-
zão de ser. Como as da escassez dos
aumentos e benefícios para alguns dos
que deles mais precisam ou a ausência
de mais incentivos às empresas. Te-
rão... − ou, algumas,
teriam, se a realida-
de não fosse a que
é. Sendo-o, além do
dificílimo mas indis-
pensável equilíbrio
entre o necessário e
o possível, deve-se
admitir não se po-
der ir além. E, mais,
reconhecer que o OE
tem bastantes me-
didas muito posi-
tivas para minorar
situações dramáti-
cas provocadas pela
pandemia − em termos de pobreza,
desemprego, precariedade, substancial
diminuição de rendimentos, etc.
Algumas destas medidas positivas
terão resultado das “negociações” do
Governo com o BE e o PCP, para estes
viabilizarem o OE. Parece que foi do
BE, por exemplo, a ideia e proposta do
apoio extraordinário ao rendimento.
Muito bem. Mas BE e PCP, tendo o
natural objetivo de consagrar no OE
tudo o que defendem, usando para o
efeito os meios ao seu dispor, devem-
-se lembrar de que o Governo é PS,
e não BE ou PCP. Logo, a menos que
desejem provocar ou contribuir para
uma crise, péssima para o País, não
podem querer alcançar por inteiro o
seu propósito.

Fala-se muito, aliás, de BE e PCP
terem sido prejudicados, nos resulta-
dos eleitorais, pela “sustentação” dada
ao anterior Governo, ficando implícita
a ideia de que o mesmo acontecerá
se o cenário se repetir. Ora, julgo
ser exatamente ao contrário. E caso
se viesse, o que creio improvável, a
verificar tal crise, por inviabilização
do OE por parte de BE e PCP, numas
futuras eleições seriam, então sim,
penalizados. Porque muitos deixariam
de lhes dar o voto para poderem in-
fluir (na sua perspetiva) positivamente
num governo PS ou liderado pelo PS,
maxime de coligação, e passariam a
votar no PS para lhe dar uma maioria
que assegurasse a estabilidade polí-
tica, de outro modo não conseguida.

2


Certos infunda-
dos ou mes-
mo indecentes
“comentários” a
propósito da subs-
tituição do ante-
rior presidente do
Tribunal de Contas,
e em particular
sobre o conselheiro
José Tavares que lhe
sucede, eram tema
que aqui queria tra-
tar. Sem prejuízo de
a ele voltar, até pela
sua exemplaridade negativa, mais
vale sublinhar aqui, incomparavel-
mente mais importante, a exem-
plaridade positiva da notável nova
encíclica do Papa Francisco, Fratelli
Tutti (Todos irmãos). Num tempo
de ódios, tiranias de várias espécies,
injustiças tremendas, o nosso pró-
prio planeta em risco, num tem-
po de Trumps, Bolsonaros & Cia.,
Francisco e esta encíclica são um
farol na escuridão, um grande sinal
de humanismo e esperança. Sendo
de sublinhar, porque nem sempre
isso acontece, como o bispo de Se-
túbal, José Ornelas Carvalho, atual
presidente da Conferência Episcopal
Portuguesa, se lhe referiu (no 13 de
Maio) em Fátima. [email protected]

Se inviabilizassem
o OE, BE
e PCP seriam
penalizados pelos
que passariam a
votar PS para lhe
dar uma maioria
que assegurasse
a estabilidade
política

POR JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS
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