Visão - Portugal - Edição 1441 (2020-10-15)

(Antfer) #1
15 OUTUBRO 2020 VISÃO 89

físico, os dois lançaram a PFC, no final de
2017, porque sentiam falta de vestuário
com um design transversal. “No meu
dia a dia, já misturava leggings com uma
camisa ou uma camisola”, conta Etelvina.
“E agora deve haver cada vez mais gente
como eu, porque a quarentena trouxe-
-nos um acréscimo de vendas no site.”
O mesmo se passa com outras mar-
cas, noutros países, sobretudo online.
Nos Estados Unidos da América, se em
2019 o athleisure já havia representado
20% do total de vendas de roupa à dis-
tância de uns cliques, a pandemia vincou
a tendência. Entre abril e junho deste
ano, a Lululemon, marca canadiana do
segmento de luxo do athleisure, vendeu
mais 157% online, em todo o mundo, do
que em igual período no ano anterior.
Segundo o Merriam-Webster, a pri-
meira vez que o termo “athleisure” surgiu
foi em 1976, num anúncio a uns ténis da
marca americana Dunham. Mas seria a
Lululemon a abrir caminho para o nas-
cimento do estilo, em 1998, ao lançar as
suas boogie pant, umas calças de algodão
muito elásticas, boas para praticar ioga ou
dança e bonitas o suficiente para serem
usadas fora do ginásio.

A REGRA É MISTURAR
“Desenhei-as para refletir as necessidades
das mulheres de Vancouver, permitindo
que passassem o dia inteiro com uma só
roupa”, diria 20 anos depois o fundador
da marca, Chip Wilson, na inauguração
de uma exposição no Museu de Arte Mo-
derna de Nova Iorque (MoMA), em que
as boogie pant apareceram ao lado das
calças de ganga 501 da Levi’s, da clássica
t-shirt branca e do little black dress, de-
senhado por Coco Chanel, nos anos 20.
Com o tempo, as calças da Lululemon
haviam de ser copiadas por todo o lado
e, sobretudo, misturadas com peças do
restante guarda-roupa. Se o conforto é
o que mais ordena, uma das regras do
athleisure é não escolher apenas peças
desportivas. As bermudas de ciclista
coordenam-se com um blazer, as swea-
tshirts oversize fazem de vestido e as le-
ggings perdem o ar de ginásio, se forem
usadas com uma camisa atada à cintura,
vemos no Instagram e nos desfiles.
Também vemos como os acessórios
ajudam a compor o look, pelo contraste:
uns brincos de ouro podem ficar bem
com um hoodie e um boné de basebol
com um casaco de cabedal. Quanto aos
pés, encontramos quase sempre uns ténis.
A bem do conforto. [email protected]

isso, passada a reativar o online, ainda
sem saberem se iria haver entregas e, em
havendo, qual seria a reação das pessoas à
chegada dos estafetas a suas casas.
“As dúvidas e os medos eram muitos,
mas foi extraordinário”, conta Inês. “As
encomendas não pararam. De repente,
havia muita gente a trabalhar em casa e
é tão mais prático ficar de leggings! Nin-
guém tem de saber isso, na reunião por
Zoom”, ri-se. “Claro que algumas pes-
soas também queriam as leggings para
usar nas aulas de ginástica online, mas
escolhiam as nossas roupas sobretudo
por elas serem confortáveis e fashion.”
É essa também a equação da Perfect
Fit Clothing, que Etelvina Neves e Filipe
Simões definem como “roupa despor-
tiva com uma atitude urbana”. Atletas
de power lifting e técnicos de exercício


ADEUS, PELES EXÓTICAS


Por causa da Covid-19, várias
marcas decidiram rejeitar a
utilização de crocodilo, píton
e avestruz nas suas roupas e
acessórios

O tráfico ilegal de animais
selvagens, agora tão falado
por causa da atual pandemia,
pode determinar o fim das
peles exóticas na moda. Depois
de o pelo verdadeiro ter sido
banido dos principais desfiles,
tudo indica que serão elas as
próximas a ser descartadas.
O sinal à indústria foi dado no
final de agosto, dias antes de
começar a semana da moda de
Estocolmo, com os suecos a
ditarem o seu desaparecimento.
A Mulberry já tomara essa
decisão em maio, e o grupo
PVH, dono da Calvin Klein e
da Tommy Hilfiger, anunciou,
entretanto, que os crocodilos,
as avestruzes e os lagartos vão,
ainda este ano, juntar-se ao
pelo e à lã de angorá na lista de
materiais proibidos.
Na organização Pessoas pelo
Tratamento Ético dos Animais
(PETA), lembram que, em
mercados como os de Wuhan, na
China, “o sangue e os fluidos de
animais mortos vão parar à rua”,
mas a decisão pode ser apenas
ética. Além de a transmissão
viral entre répteis e humanos
ser quase impossível, muitos
ambientalistas defendem que,
se não fosse a indústria de
luxo, enormes áreas de habitat
de animais exóticos teriam já
sido transformadas em terras
agrícolas ou de pasto para
vacas.
Free download pdf