Clipping Banco Central (2020-10-16)

(Antfer) #1

Acabou a corrupção?


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Dinheiro encontrado na cueca de vice-líder de
Bolsonaro ridiculariza bazófia presidencial


A Lava Jato acabou por falta de objeto, afirmou o
presidente Jair Bolsonaro em termos mais coloquiais. O
raciocínio por trás da parolagem era simplista como de
hábito: seu governo teria extinguido a corrupção e,
portanto, não caberia mais operação para esse
propósito.


Como nas comédias, o tempo se encarregou de
ridicularizar o canastrão. Nesta quarta (14), uma
semana depois de declamado o fim dos desvios, o
então vice-líder do Planalto no Senado, Chico
Rodrigues (DEM-RR), foi pego pela Polícia Federal com
dinheiro na cueca.


Quando deram com o achado, os investigadores
cumpriam um mandado de busca e apreensão,
ordenado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do
Supremo Tribunal Federal, na residência do senador em
Boa Vista. A intervenção ocorreu para dar curso a uma
apuração sobre fraudes de verba federal para o
combate à Covid-19.


Chico Rodrigues diz que provará a inocência, mas foi
desligado da vice-liderança do governo -e afastado do
Senado por decisão, decerto polêmica, de Barroso. Já
os vídeos em que aparece dando mostras de sintonia
com Bolsonaro despertam o interesse do público.

As notas íntimas, ao calor do corpo, fazem lembrar do
assessor do hoje deputado federal José Guimarães (PT-
CE) flagrado com US$ 100 mil, também na cueca, ao
tentar embarcar num voo em 2005.

Também evocam a doleira da Lava Jato Nelma
Kodama, que em 2014 tentou voar para a Europa com
200 mil euros na calcinha -e as cenas de numerário
homiziado na cueca e na meia de aliados captadas nos
vídeos que em 2009 escancararam desmandos da
gestão José Roberto Arruda, eleito pelo DEM.

Quando o volume excede a capacidade do organismo,
surgem as malas, como as encontradas em 2017 com
mais de R$ 50 milhões em apartamento do ex-ministro
Geddel Viera Lima (MDB) e, no mesmo ano, as
endereçadas ao então senador Aécio Neves (PSDB)
pela JBS.

Não é necessário ser psicanalista para intuir o que está
por trás da bazófia de Bolsonaro sobre o fim da
corrupção. É o desejo de não ter seus novos e velhos
parceiros políticos -e sobretudo familiares do
presidente- importunados por procuradores, juízes e
policiais.

A realidade, porém, frustra as expectativas
presidenciais, para o bem das instituições republicanas.
Os excessos cometidos na Lava Jato por aplicadores do
direito não apagam o colosso de corrupção detectado
naquelas investigações.

A aproximação com o centrão tem o efeito elogiável de
moderar o extremismo presidencial, mas não disfarça o
interesse mútuo de manietar os órgãos de controle.
Cabe à sociedade e aos guardiões da lei impedir que
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