Clipping Banco Central (2020-10-16)

(Antfer) #1

As ameaças a Talíria Petrone


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Silvio Almeida


A violência política no Brasil caminha para inviabilizar a
democracia


Talíria Petrone, deputada federal pelo PSOL-RJ, relata
que foi notificada de pelo menos seis planos que tinham
como objetivo seu assassinato. De acordo com a
deputada, as primeiras ameaças datam de 2016,
quando foi eleita vereadora da cidade de Niterói. Já
eleita deputada federal, Petrone foi oficialmente
informada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro que, em
junho deste ano, foram interceptadas mais de cinco
gravações planejando sua morte.


Além de devastar a vida pessoal de quem as recebe,
ameaças de morte a parlamentares podem significar
que a violência política no Brasil ruma a um novo
patamar.


Ao que tudo indica, estamos diante da consagração
definitiva da ameaça e do assassinato como peças
centrais da política institucional. Em teoria, instituições
têm a função de manter sob controle o potencial


destrutivo do conflito político. Nesse jogo institucional, o
opositor se torna adversário, e não inimigo, e grupos
divergentes são tratados como 'oposição' e não como
'facção'!

A situação de Talíria Petrone pode ser o balão de
ensaio para que se impeça a livre participação política,
sem suprimir o voto, ou mesmo a possibilidade de ser
eleito. Quando alguém que almeja a vida política é
ameaçado, forçado ao exílio ou assassinado sem que
isso gere grandes consequências, o recado me parece
evidente: nem tente se candidatar, mas caso se
candidate, não vai ganhar; e se ganhar, não termina o
mandato.

É bom que se diga que Talíria Petrone não aparece
sozinha no quadro da violência política no Brasil. O caso
mais emblemático de nossa história recente -o
assassinato da vereadora Marielle Franco em março de
2018- segue sem resolução. Após desistir de assumir
seu terceiro mandato, Jean Wyliys optou por deixar o
Brasil devido a constantes ameaças. A escolha do ex-
deputado não é sem razão se analisarmos os dados
sobre violência política no Brasil. Segundo pesquisa das
organizações Terra de Direitos e Justiça Global, o Brasil
registrou, desde 2016,125 casos de assassinatos e
atentados contra políticos.

Qualquer cidadão ameaçado deve ser motivo de
indignação, repulsa e, mormente, abertura de
investigação. Entretanto, o Brasil é um país em que é
muito fácil matar ou fazer desaparecer alguém,
especialmente se a pessoa é negra ou pobre. Segundo
pesquisa do Instituto Sou da Paz, 70% dos homicídios
no Brasil não são solucionados.

Em um quadro como esse não há que se falar sequer
em democracia formal. Estamos vivendo um grande
processo de negação, quase um delírio coletivo. É um
país que caminha para uma delinquência sistêmica, que
mata, deixa morrer e que é incapaz de cumprir as
próprias leis, como evidencia a situação carcerária e
seus
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