Clipping Banco Central (2020-10-16)

(Antfer) #1

MÍRIAM LEITÃO - A corrupção sempre presente


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Economia
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: MÍRIAM LEITÃO


O escândalo enojante, em todos os sentidos da palavra,
do ex-vice-líder do governo, senador Chico Rodrigues, é
a mais recente prova de como Jair Bolsonaro usou
abusivamente a bandeira do combate à corrupção,
vendendo-se diferente do que sempre foi. Não
precisava mais nada no governo, mesmo assim houve
essa última excrescência. Bastava a abundância de
dinheiro sem origem ou sem explicação clara que
circula nas mãos ou nas contas de Bolsonaro, seus
filhos, sua mulher e suas ex-mulheres. No fim do dia, o
ministro Luís Roberto Barroso determinou o
afastamento do senador do mandato por 90 dias,
decisão ainda sujeita à aprovação pelo Senado.


O senador foi removido da vice-liderança pelo governo,
mas isso não apaga o fato de que foi líder, tinha com o
presidente da República uma relação definida por
Bolsonaro como “quase uma união estável”, emprega
no seu gabinete Leo índio, o notório primo dos filhos do
presidente. O distanciamento que Bolsonaro tenta agora
ter em relação ao senador foi o mesmo movimento que


ele executou contra o advogado Frederick Wassef, o
mesmo que tenta manter de Fabrício Queiroz, que, por
sua vez, tinha ligação com Adriano da Nóbrega, chefe
miliciano.

Bolsonaro terá que fazer cada vez mais esforço para
manter o seu discurso que foi definido pelo senador
Chico Rodrigues como de “patriotismo, defesa da
família e retomada da moralidade”. Na verdade, ele é o
anti-modelo em cada um desses quesitos.

Os fatos verdadeiros estão no relatório da
Transparência Internacional que denunciou um
“desmanche institucional” no país, afirmando que o
principal responsável é o presidente Bolsonaro. A
Transparência fez dois relatórios. Num deles, relacionou
os casos da exportação da corrupção por diversas
empresas. Em outro, mostrou os retrocessos
institucionais no Brasil que, por 15 anos, foi exemplo no
exterior pelo Mensalão e pela Lava-Jato. O relatório é
uma atualização e confirmação de outro documento de
outubro do ano passado. Os textos foram para o Grupo
Antisuborno, da OCDE, e o Grupo de Ação Financeira
contra Lavagem de Dinheiro e Financiamento do
Terrorismo (Gafi/FATF). O Brasil faz parte de acordos,
integra esses grupos, portanto, o desmonte do combate
à corrupção executado pelo governo Bolsonaro está
desrespeitando compromissos internacionais. Será
também levado em conta, assim como os crimes
ambientais, na decisão sobre a entrada do país na
OCDE.

O relatório sobre os retrocessos enumera os passos
atrás que têm sido dados na luta do Brasil contra a
corrupção. Foram muitos. O Coaffoi enfraquecido, o
diretor da Polícia Federal, demitido para dar lugar a
outro delegado submisso ao governo, o procurador-
geral da República, em seu primeiro ano de mandato,
colocou como alvos os procuradores da Lava-Jato, e a
operação Greenfield “foi parcialmente desmantelada”,
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