Clipping Banco Central (2020-10-16)

(Antfer) #1

FLÁVIA OLIVEIRA - A urgência da fome


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Ipea

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Por uma porção de conveniência política e um punhado
de incompetência técnica, o governo de Jair Bolsonaro
adiou para depois das eleições 2020 a decisão sobre a
política social no pós-pandemia. Na prática, ficará para
2021, já que o segundo turno do pleito municipal está
marcado para 2 9 de novembro. Assim, ignorou-se
descaradamente a regra número um de quem se ocupa
do combate à extrema pobreza: quem tem fome tem
pressa. Afrase eternizadapelo sociólogo Herbert de
Souza, o Betinho, deuna cruzada brasileira pela
erradicação da miséria; desaguou no Fome Zero, no
primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva; emendou
no Bolsa Família. Rendeu a saída do Brasil do Mapa da
Fome da ONU, no início desta segunda década do
século XXI, que chega ao fim com o recrudescimento da
insegurança alimentar.


O aumento da vulnerabilidade social mundo afora,
durante apandemiadaCovid-19, explica o Nobel da Paz
concedido ao Programa Mundial de Alimentos, WFP da
abreviação em inglês. A agência da ONU foi
reconhecida pelas ações de combate à fome, por
melhorar condições de paz em áreas de conflito e por


atuar contra o uso da falta de alimentos como arma de
guerra, informou o comitê norueguês do prêmio.
Resumindo em hashtag: #comidaépaz. Segundo as
Nações Unidas, o WFP é a maior organização
humanitária do mundo; em 2019, assistiu 97 milhões de
pessoas em 88 países. Foi festejada pela complexa
logística que construiu para levar alimentos onde há
fome na África, naÁsiae na América Latina. Opera com
mais de cinco mil caminhões, uma centena de aviões,
30 navios.

O relatório “Estado da insegurança alimentar e
nutricional no mundo”, lançado em julho por cinco
agências da ONU, estimou que, em 2018, pelo menos
820 milhões de pessoas passavam fome no planeta. O
diagnóstico já punha em risco a meta de universalizar o
acesso a alimentos até 2030, conforme estabelecido
nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Com a
pandemia da Covid-19, a situação se agudizou. Em
meados deste ano, as estimativas chegavam a 132
milhões de novos famintos, em decorrência da recessão
global. Para conter a escalada, o WFP anunciou que
precisaria arrecadar US$ 6,8 bilhões nos próximos seis
meses; até o início da semana, conseguira um quarto. A
Oxfam calculou que, de março a junho deste ano, 73
bilionários da América Latina e do Caribe, Brasil
incluído, ficaram US$ 48,2 bilhões mais ricos.

No Brasil, o IBGE disparou o alerta quando contou 10,3
milhões de brasileiros com privação alimentar grave no
biênio 2017-2018. Foi consequência da recessão
profunda dos anos anteriores, que a recuperação
modesta do triênio 2017-2019 não superou e, agora,
retorna com a pandemia. Em projeções otimistas, o PIB
brasileiro cairá 5% em 2020.0 auxílio emergencial de R$
600, pago a 67,8 milhões de pessoas até agosto, ajudou
a aplacar os efeitos socioeconômicos da crise sanitária.
Mês passado, o governo decidiu, por restrições
orçamentárias, cortá-lo à metade e prorrogá-lo até
dezembro. A decisão é insuficiente para dar conta da
vulnerabilidade avassaladora. Na última semana de
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