Clipping Banco Central (2020-10-16)

(Antfer) #1

Crônica da Cidade - Soldado amarelo


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Cidades
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Severino Francisco


O nosso escritor gaúcho-brasiliense Lourenço Cazarré é
um contador de histórias de mão cheia. Ele já ganhou
12 prêmios nacionais de literatura. A ponto de alguns
escribas ameaçarem entrar com recurso contra ele no
STF. Como diria o Paulo Francis, atenção, massas,
riam, isso é uma piada. Pois bem, Cazarré acaba de
lançar o primeiro romance diretamente na rede Amazon,
com o título de O soldado amarelo (O inferno não tem
arremate).


O nome do livro é inspirado, obviamente, no célebre
personagem do romance Vidas secas, de Graciliano
Ramos, o soldado amarelo que aplica uma surra
humilhante e traumática no vaqueiro Fabiano.


O Fabiano da ficção de Cazarré o personagem
chamado Professor Só-aos-sábados. O narrador de O
soldado amarelo é um policial militar acusado de ter
batido em um professor que, vinte anos antes, foi
professor do governador do estado. Para safar-se da


acusação, o sargento entrelaça essa agressão ao
professor com uma tocaia sofrida, na mesma data, pelo
prefeito da cidadezinha do interior onde mora.

Em uma longa conversa com o governador do Estado,
esse sargento da Força Pública usará do seu domínio
retórico da língua portuguesa (obtido quando policiava
as galerias da Assembléia Legislativa) para se salvar de
uma provável punição.

O ponto de partida de Cazarré foi um depoimento de
Graciliano a seu filho Ricardo, publicado com o título
Graciliano- Retrato fragmentado. Ele baseou-se em fato
verídico de um atentado sofrido por Graciliano, nos
tempos em que era prefeito de Palmeira dos índios.
Vale a pena evocar a história pouco conhecida do cabra
alagoano.

Certo domingo, depois do almoço, numa tarde bonita,
Graciliano foi com a mulher, Heloísa, ao cinema. Ela
estava grávida. Pegaram o automóvel e ganharam a
estrada. No melhor momento, quando o tempo ficou
fresco, no pôr do sol, abruptamente, atiraram em
Graciliano. O para-brisado Ford se estilhaçou com seis
tiros: “Gente ruim, uma peste de pontaria”, comentou
Graciliano. “Não acertaram ninguém”.

O chofer do prefeito Graciliano respondeu com uma
descarga de revólver para todos os lados. Depois do
susto, Graciliano percebeu que eram dois sujeitos de
tocaia. Um fugiu, o outro se escondeu embaixo de uma
ponte. Graciliano caiu para cima dele, o agarrou e
trouxe preso. Deixou a mulher em casa e levou o
atirador para a delegacia.

Lá, o sujeito apanhou muito, mas não disse nada sobre
os mandantes. Graciliano passou por lá e intimou: “Fale
ou não fala nunca mais”. O filho Ricardo perguntou:
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