Clipping Banco Central (2020-10-16)

(Antfer) #1

Aparelhamento bolsonarista


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

A TV Brasil já nasceu, em 2007, com o mal congênito
da impostura. Tratada no berço como uma emissora
destinada a atender "à antiga aspiração da sociedade
brasileira por uma televisão pública nacional,
independente e democrática", rapidamente ganhou o
apelido de "TV do Lula", em alusão ao fato óbvio de que
a emissora estatal nada tinha de pública. Ao contrário,
prestava-se, em parte da programação, a fazer a
promoção descarada do governo lulopetista, sobretudo
em tempos de campanha eleitoral, especialidade do
demiurgo de Garanhuns.


A emissora agigantou-se em funcionários e estrutura
mesmo dando apenas traço de audiência - o que já
seria argumento suficiente para fechá-la sem
pestanejar, se houvesse respeito pelos contribuintes.
Prestou-se ademais a empregar apaniguados petistas
de várias extrações, que ali garantiam o padrão chapa-
branca e transformaram a TV em aparelho do partido.


Por essas e outras razões, Jair Bolsonaro, ainda na
campanha presidencial, havia se comprometido a fechar
a TV Brasil, na esteira das anunciadas privatizações em
massa. Ainda que não fosse mais a "TV do Lula", a


emissora continuava sem justificar sua existência.

Como se sabe, nem as prometidas privatizações em
massa ocorreram nem a TV Brasil foi fechada. Hoje ela
é, escancaradamente, a "TV do Bolsonaro".

Na terça-feira passada, a emissora transmitiu o jogo do
Brasil contra o Peru pelas Eliminatórias da Copa de
2022, momento em que o locutor achou adequado fazer
elogios ao presidente Bolsonaro. De quebra, no
intervalo da partida, a TV veiculou reportagens
favoráveis ao governo.

A própria transmissão do jogo foi fruto de um acordo
obscuro do governo com a notória CBF, fazendo da TV
Brasil a única emissora de canal aberto a exibir a
partida, o que lhe rendeu boa audiência - devidamente
explorada pela máquina de propaganda bolsonarista.

Há tempos o presidente Bolsonaro vem testando os
limites das instituições republicanas, como fez
impunemente durante toda a sua trajetória como
deputado. No caso em questão, a baliza é a Lei 11.652,
de 2008, atualizada pela Lei 13.417, de 2017, que, no
parágrafo 1.° do artigo 3.°, proíbe "qualquer forma de
proselitismo na programação das emissoras públicas de
radiodifusão". A violação dessa lei pode constituir crime
de responsabilidade, passível de impeachment.

Para Bolsonaro, assim como havia sido para Lula da
Silva a seu tempo, essa proibição não lhe diz respeito.
O Estado é, para o atual presidente, uma extensão de
seus domínios particulares, e sua estrutura deve estar a
serviço de seus interesses privados, em geral
eleitoreiros.

A "TV do Bolsonaro" é apenas uma das tantas
estruturas do Estado de que o presidente e seu grupo
político se apoderaram. O País, perplexo, vem
testemunhando, por exemplo, a conversão da Fundação
Alexandre de Gusmão, órgão de pesquisa e divulgação
do Itamaraty, em escola doutrinária inspirada nos
"ensinamentos" do ex-astrólogo Olavo de Carvalho,
Free download pdf