Clipping Banco Central (2020-10-16)

(Antfer) #1

PEDRO DORIA - A coragem de Face e Twitter nos EUA


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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O que Facebook e Twitter fizeram quarta-feira, nos
Estados Unidos, é histórico. Cercadas por críticas justas
relacionadas a suas condutas em inúmeras eleições -
incluindo as que levaram à presidência Donald Trump,
em 2016 - , as duas plataformas agiram com incrível
coragem numa decisão particularmente difícil. Do ponto
de vista jornalístico, porém, uma decisão
indubitavelmente correta. Uma decisão que também
levanta o debate a respeito da fronteira entre imprensa
e redes sociais.


Na mesma quarta, o tabloide New York, Post publicou
uma extensa reportagem sobre o candidato democrata
à presidência Joe Biden e seu filho, Hunter. Na capa, o
jornal classificava a matéria como uma bomba capaz
até de mudar os destinos do pleito. E as duas redes
sociais tomaram a decisão de interferir para diminuir a
distribuição da história. É algo que já fazem
corriqueiramente com fake news óbvias, mas é uma
decisão que se torna mais difícil quando o relato vem de
um veículo da imprensa tradicional.


O Post, típico tabloide sensacionalista nova-iorquino,
pertence a Rupert Murdoch, também dono da FoxNews,


canal de apoio a Donald Trump. E este contexto é
importante. A reportagem afirma ter conseguido, através
de Rudolph Giuliani, advogado de Trump e ex-prefeito
de Nova York, o conteúdo do disco rígido de um
computador que pertencia a Hunter Biden e que foi
misteriosamente abandonado em uma oficina para
consertar. Lá dentro, e-mails comprometedores, fotos
pessoais, que indicariam contatos de Hunter com
corruptos ucranianos. Entre os e-mails, indícios de que
o filho teria envolvido o pai quando ainda vice-
presidente na história.

Foi por usar o poder da presidência americana para
pressionar seu par ucraniano a investigar Biden por um
escândalo sem indício concreto que Trump viu aberto
contra si um processo de impeachment. A agenda oficial
de Biden quando vice, que é controlada, demonstra que
um encontro chave citado na reportagem não deve ter
ocorrido. O Post publicou fotos privadas de Hunter,
portanto algo tem. Mas seus repórteres não
apresentaram o caminho que seguiram para determinar
a autenticidade e a origem dos e-mails que dizem ter
conseguido. E-mails são falsificáveis. E, como fonte,
Giuliani é justamente quem está há pelo menos dois
anos tentando bancar uma história que, até agora tudo
indica, é apenas uma teoria conspiratória.

Não é à toa que o governo Trump vem tentando colar
em Biden a pecha de corrupto desde o início de 2019.
Sempre foi o candidato democrata que o presidente
mais temia enfrentar. Contra um homem abertamente
de esquerda como Bernie Sanders, nos EUA, a briga
seria mais fácil. Contra um social-liberal centrista é mais
duro. Em ano de pandemia no qual a conduta da Casa
Branca é criticada, pior.

Quando se publica um material destes, o bom
jornalismo precisa dar ao leitor pistas de como
conseguiu determinar sua autenticidade. O Post não o
fez. Por vir de uma holding que há mais de quatro anos
faz campanha aberta para Trump, as razões para
editores olharem para o trabalho de reportagem do
tabloide com dois pés atrás são evidentes.
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