Clipping Banco Central (2020-10-17)

(Antfer) #1

Brasil não pode desprezar a vacina chinesa


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
sábado, 17 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Desde que o novo coronavírus pôs o mundo em
quarentena, o maior desafio da Ciência passou a ser a
busca por uma vacina contra a Covid-19. Mesmo antes
que elas ficassem prontas, começou a corrida por
imunizantes que ainda não passam de apostas,
algumas bastante promissoras, outras nem tanto.
Países ricos se adiantaram para garantir mais de um
bilhão de doses a seus cidadãos, sem pudor em aderir
de modo explícito ao "nacionalismo das vacinas".


Embora não integre o clube dos ricos, o Brasil também
entrou na corrida. Em junho, o governo anunciou
parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica
AstraZeneca, que desenvolvem uma das vacinas em
fase final de testes. O acordo, de R$ 1,9 bilhão, prevê o
compartilhamento de tecnologia com a Fiocruz. A
expectativa é que, se a vacina for aprovada nos testes,
sejam fabricadas 140 milhões de doses no primeiro
semestre do ano que vem.


Depois de muita relutância, o país aderiu também ao
Covax, o programa global da Organização Mundial da
Saúde (OMS) destinado a apoiar o desenvolvimento das
vacinas, financiar a sua produção e garantir uma


distribuição equânime. O Brasil entrará com R$ 2,5
bilhões no consórcio que reúne mais de 172 países.

São decisões importantes, sem dúvida. Mas as
iniciativas precisam ser as mais amplas possíveis,
porque é difícil saber que apostas serão bem-sucedidas.
E aí que começa o problema. O Ministério da Saúde
reluta em pôr suas fichas na chinesa CoronaVac,
desenvolvida pela empresa Sinovac em parceria com o
Instituto Butantan, de São Paulo. Ela é a vacina mais
avançada em fase de testes no Brasil.

Em carta enviada ao ministro da Saúde, Eduardo
Pazuello, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde
(Conass) pediu que o programa de imunização do
governo federal inclua a CoronaVac, que pode estar
disponível em dezembro, antes da vacina
Oxford/AstraZeneca, prevista para abril de 2021.

O governo de São Paulo diz ter garantido 61 milhões de
doses numa parceria com a Sinovac, mas argumenta
que a ampliação da oferta para distribuição no SUS não
será possível sem recursos federais. O secretário-
executivo do ministério, Elcio Franco, afirmou que o
governo federal não descarta nenhuma possibilidade: "A
vacina do Butantan está nessa lista, em momento algum
se afirmou algo diferente disso".

Espera-se mesmo que o governo Bolsonaro não esteja
colocando questões político-ideológicas acima da saúde
pública. Não importa se o governador de São Paulo,
João Doria, é adversário de Bolsonaro nas umas, ou se
o presidente alimenta teorias conspiratórias. Em seu
livro "Um paciente chamado Brasil", o ex-ministro da
Saúde Luiz Henrique Mandetta conta que Bolsonaro
acreditava que a China tinha inventado a pandemia e
que o embaixador chinês estava aqui para derrubá-lo.

Não se pode permitir que a vacinação contra a Covid-19
seja contaminada por fantasias ou ideologias. Trata-se
de decidir o que é mais adequado para proteger os
brasileiros. Quanto mais opções, melhor.
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