A responsabilidade das redes sociais na campanha americana
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O Globo/Nacional - Opinião
sábado, 17 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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É esperado que, na atual fase da campanha eleitoral
americana, surjam denúncias questionáveis. É o caso
da publicada com estardalhaço pelo tabloide "New York
Post" contra o candidato democrata Joe Biden. Com
base num e-mail de autenticidade e origem duvidosas, o
jornal atribui a Hunter Biden, filho de Joe, a
intermediação de um encontro entre um executivo da
empresa ucraniana de gás Burisma e o pai, então vice-
presidente.
Não é de hoje que o ex-vice Biden é acusado de ter
pressionado a Ucrânia a suspender uma investigação
sobre a Burisma, em cujo conselho o filho trabalhava.
Foi o telefonema em que Donald Trump tentou
convencer o presidente ucraniano a investigar tal
relação que levou ao impeachment na Câmara. O "New
York Post" cita como fontes Rudolph Giuliani, advogado
de Trump, Steve Bannon, guru da extrema-direita, e até
o FBI, que primeiro teve acesso aos e-mails.
Biden já negou a história reiteradas vezes. Sua
campanha apresentou provas de que o encontro não
ocorreu. Vários furos foram apontados na origem do e-
mail, atribuída a um técnico que afirmou ter tido acesso
ao computador de Hunter deixado no conserto.
A fragilidade da acusação fez com que Twitter e
Facebook reduzissem a exposição da notícia - o
primeiro, barrando por completo a disseminação; o
segundo, determinando que checadores independentes
verificassem o que havia sido publicado e restringindo a
circulação do conteúdo.
Há aspectos positivos no episódio. Ele mostra que as
redes sociais não podem mais se furtar à
responsabilidade editorial pelo conteúdo que
disseminam. Parecem ter ficado definitivamente para
trás os tempos de tolerância com as campanhas de
desinformação. Mas a reação do Twitter foi
desproporcional. O CEO da empresa, Jack Dorsey,
terminou sendo intimado pelos republicanos a depor no
Congresso, sob a acusação de ter censurado
informações que não lhe agradam. Chegou a pedir
desculpas pela decisão.
O Facebook tomou uma decisão mais compatível com
os princípios que tem defendido, ao reduzir a exposição
do conteúdo e promover a checagem, mas não bloqueá-
lo completamente. E uma atitude mais sensata diante
das características intrínsecas das redes sociais e das
circunstâncias do caso.
As denúncias contra Biden podem não passar mesmo
de propaganda promovida pelo trumpismo. Mas as boas
práticas jornalísticas - que devem ser exigidas das
redes como de qualquer veículo de imprensa -
recomendam que elas sejam checadas e expostas, não
bloqueadas ou censuradas.
Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
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