Clipping Banco Central (2020-10-17)

(Antfer) #1

EURÍPEDES ALCÂNTARA - O poder da alternância


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
sábado, 17 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Se as pesquisas eleitorais não estiverem, quatro anos
depois, a caminho de outra débâcle histórica, em mais
algumas semanas ocorrerá nos Estados Unidos aquele
momento em que a democracia se justifica, a
alternância de poder. Os números mostram que o
democrata Joe Biden tem boa dianteira sobre o
republicano Donald Trump na corrida para a Casa
Branca. Não importa. O ponto aqui não é prever o
vencedor, mas exaltar a alternância de poder. O sistema
democrático do voto universal e secreto não é nem de
longe o mais eficiente para escolher as melhores
pessoas para governar. A democracia é insubstituível
por sua capacidade única de garantir que os piores não
fiquem indefinidamente no comando das nações.


Para o grupo que ascende, a alternância é uma
consagração, mas poderia ser também um momento de
renovação das esperanças para todos. Impossível? A
política, se pretende mesmo ser a arte do possível, tem
que mirar no impossível.


Saber que tem hora para sair do poder é o equivalente
da luz do sol sobre o mofo. Talvez, por isso, a alta
burocracia do funcionalismo público, o Judiciário entre


ela, por ser vitalícia e não ter que enfrentar a
alternância, atue numa frequência irritante com solene
desprezo pelos anseios evidentes da maioria da
população. O foco das burocracias nos momentos mais
graves é manter seus privilégios. Nos momentos de
menor pressão sobre elas, o foco muda para a busca
incessante do aumento desses privilégios - seja qual for
o custo para os brasileiros da planície que as
sustentam, trabalhando os primeiros cinco meses do
ano exclusivamente para pagar seus impostos e taxas.
Na iniciativa privada, o efeito da alternância se dá pela
possibilidade de demissão por improdutividade - algo
que não existe no serviço público.

Ouvi de ocupantes transitórios do Palácio do Planalto,
de todos os espectros ideológicos, a queixa contra a
insensibilidade do monstro burocrático pela certeza de
que, se os eleitos têm prazo de validade, ele ficará, não
importando se seus integrantes são ótimos, bons ou
péssimos servidores. O fenômeno é universal. Numa
das entrevistas que fiz com Bill Clinton, duas vezes
presidente dos Estados Unidos, ele se queixou de que
"governar é como dar ordens a um cemitério: ninguém
abaixo ouve".

A alternância no poder político nas democracias tem
suas leis. A mais evidente é a do pêndulo que cumpre
um arco entre a esquerda e a direita. Quanto mais ele é
levado para um extremo pelo ocupante do poder, mais
alimentará o extremismo na sucessão. Quanto mais
burocrático e inoperante um presidente, mais o pêndulo
buscará um sucessor que se apresente como dinâmico
e atuante. Essa é a beleza da democracia.

Não me refiro aqui aos momentos miraculosos de
transição de ditaduras duradouras para a democracia,
como na queda da União Soviética ou no fim do regime
do apartheid na África do Sul. A lei da alternância tem
seu peso específico nas democracias consolidadas.

Num de seus menos lembrados discursos, o de
aceitação de sua indicação para a disputa da
Presidência da República pelo Partido Democrata, em
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