Clipping Banco Central (2020-10-17)

(Antfer) #1

ADRIANA FERNANDES - Ouvidos moucos


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
sábado, 17 de outubro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

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Em entrevista ao Estadão, o ex-presidente do Banco
Central Affonso Celso Pastore não poderia ter definido
melhor o quadro da política em Brasília nos dias atuais.
Para ele, o presidente Jair Bolsonaro e os congressistas
teimam em não entender a situação da economia e da
escalada acelerada de deterioração da percepção de
risco do País. Fazem ouvidos moucos.


O resultado é que o Brasil poderia estar agora
aproveitando uma onda mais positiva após as medidas
de mitigação dos efeitos da pandemia da covid-19, que
impediram um tombo maior da economia, e vêm
sustentando o processo de recuperação neste segundo
semestre.


Ao contrário, o Brasil vive um dos momentos mais
delicados dos últimos anos e isso pode se agravar se
governo e Congresso continuarem errando a mão.
Qualquer que seja a solução, será preciso encontrá-la
urgentemente. Até agora, porém, está todo mundo
perdido em Brasília e atirando cada qual para um lado:
não faltam propostas e sobra inação.


A mais recente ideia é a de criação de um fundo para


receber receitas de renúncias tributárias e
desonerações para deixar as despesas com o novo
programa social fora do teto de gastos. Variações do
mesmo tema.

Querem tirar um pedaço do Estado do Orçamento. Mas
de que adianta ter uma PEC no Senado para extinguir
fundos públicos? Proposta com credibilidade zero. Tal
qual a do adiamento do pagamento das despesas com
precatórios para financiar o Renda Cidadã, que não
durou mais de três dias depois de anunciada. Não
faltaram avisos que ela seria um desastre.

O atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi
direto ao ponto: o choque fiscal explica parte da
depreciação cambial dos emergentes. Após a fase mais
aguda da pandemia, a volta do apetite de risco dos
investidores já acontece para um grupo de países
emergentes, como Malásia, Indonésia, Polônia, Chile e
Rússia.

Num segundo grupo de países, onde está o Brasil,
África do Sul, Turquia, Colômbia, México e Índia, as
condições financeiras continuam ainda restritivas em
razão de fundamentos econômicos desfavoráveis. O
maior diferencial entre esses dois grupos de países é
justamente a relação entre dívida e PIB. O Brasil é o
pior entre os piores.

O País flerta com essa crise e a desconfiança dificulta o
financiamento da dívida pública pelo Tesouro. Até
agora, todo mundo falava que o encurtamento dos
prazos dos títulos do Tesouro era mais um sinal do
aumento do risco, além da maxidesvalorização do real,
que já alcança 40% em 2020. Mas quando se mostra os
números consolidados das consequências desse
processo, a ficha cai ainda mais.

Como revelou o Estadão, os vencimentos de papéis no
primeiro quadrimestre já chegam a R$ 643 bilhões, 15%
do total da dívida interna.

O BC e Tesouro estão atuando junto para estabilizar o
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