Clipping Banco Central (2020-10-17)

(Antfer) #1

Muita dívida, muitas dúvidas


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
sábado, 17 de outubro de 2020
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O Brasil gastaria toda a produção de um ano - soja,
milho, automóveis, aviões, sapatos, serviços
domésticos, transportes, sorvetes, vestidos, jogos de
futebol, tubaínas, bicicletas, celulares, etc. - se fosse
preciso liquidar a dívida pública em um só pagamento.
O governo geral vai terminar 2020 devendo o
equivalente a 100% do Produto Interno Bruto (PIB),
segundo as estimativas mais confiáveis. A relação ficará
pouco acima de 100% nos anos seguintes, pelo menos
até 2025, de acordo com projeção do Fundo Monetário
Internacional (FMI). O endividamento é muito mais alto
que o de países pares do Brasil, lembra o secretário do
Tesouro, Bruno Funchal, acrescentando: "É um alerta".


Não há margem, disse ele, para o governo errar na
gestão das contas públicas. A mesma advertência foi
feita pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto
Campos Neto, em outro ambiente. Qualquer política
produzirá mau efeito no mercado, se indicar mudança
do regime fiscal ou maior demora na correção das
contas públicas. Qualquer ação desse tipo, afirmou, "vai
refletir-se na credibilidade do País e, por consequência,
na vontade do investidor de aplicar recursos" no Brasil.


Nenhum dos dois, Campos Neto ou Funchal, falou de
um perigo remoto ou meramente hipotético. As
incertezas sobre a condução das contas públicas são
notórias no dia a dia do mercado, nas oscila- ções da
bolsa de valores, na evolução dos juros futuros e na
instabilidade cambial, com o dólar rondando e às vezes
superando a cotação de R$ 5,60, cerca de 40% mais
alta que a do começo do ano.

A ampla diferença entre a dívida pública do Brasil e a
dos "pares", apontada por Funchal, aparece com muita
clareza nas informações do FMI. O contraste, já bem
visível em anos anteriores, torna-se mais dramático
depois do enfrentamento da covid-19.

No Brasil, a dívida bruta do governo geral deve passar
de 89,5% do PIB em 2019 para 101,4% neste ano e
102,8% em 2021. A relação continuará subindo e
deverá atingir 104,4% em 2025. Nas economias
emergentes e de renda média, o endividamento médio
deve atingir 62,2% em 2020 e 71,1% dentro de cinco
anos, de acordo com as estimativas do Fundo. Em
muitos países a relação dívida/PIB diminuirá nos
próximos anos. Em outros, será firmemente contida,
depois do choque de 2020.

Os dados fiscais passaram a ter mais peso nas
decisões de política monetária, observou Campos Neto,
embora as projeções e expectativas de inflação
continuem sendo a referência mais importante para o
BC. Mas a variável fiscal afeta as avaliações do
mercado e, portanto, tende a influenciar a evolução dos
juros. O mercado, disse o presidente do BC, entendeu a
intenção do Executivo de cuidar da questão dos gastos
sociais depois das eleições deste ano. Por isso, mais
importante que o tempo é saber como será "a
convergência fiscal daqui para a frente".

Mas esse comentário foi feito no meio de outubro,
quando nem sequer se pode falar com alguma
segurança sobre o Orçamento federal de 2021.
Questões importantes para o futuro das contas públicas
permanecem nebulosas, embora o ministro da
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