Clipping Banco Central (2020-10-17)

(Antfer) #1

Pontapé inicial


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
sábado, 17 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Após promessa de privatização, Bolsonaro usa TV
estatal para promover sua gestão em jogo de futebol


O discurso bolsonarista sempre denunciou o
aparelhamento do governo pela esquerda, por
militantes, por ONGs. Agora uma das grandes
preocupações do presidente é aparelhar as instituições
com seus seguidores, amigos e parentes.


A intervenção do governo na transmissão de um jogo da
seleção brasileira, enfim veiculado pela estatal TV
Brasil, constitui um experimento da politização indevida
de um recurso público â?"aliás, já desperdiçado de todo
modo.


Na campanha, como eleito e durante seu governo, Jair
Bolsonaro disse que a Empresa Brasileira de
Comunicação deveria ser extinta ou privatizada, pois
dava prejuízo, não tinha audiência e era dominada por
esquerdistas, além de contar com excesso de
funcionários, o que é decerto verossímil.


Depois de reticências e adiamentos devidos a conflitos
intestinos do Executivo, a EBC, que inclui a TV Brasil,


emissoras de rádio e agência de notícias, foi incluída
em maio no programa de desestatização.

No fim de setembro, o plano de venda da empresa foi
cancelado por Fábio Faria, ministro das Comunicações.
A pasta fora recriada como parte do esforço de
aproximação do Planalto com partidos fisiológicos no
Congresso. A EBC ficaria, então, apenas mais "enxuta".

O confronto entre Brasil e Peru pelas Eliminatórias Sul-
Americanas da Copa do Mundo não seria transmitido
pela televisão aberta, devido a impasses comerciais,
mas apenas por canais de internet pagos.

O secretário-executivo das Comunicações, Fábio
Wajngarten, propagandista entusiasmado de Bolsonaro,
cuidou das negociações de última hora que permitiram a
veiculação da partida pela TV estatal, acertada pouco
mais de uma hora antes do seu início.

Durante o jogo, o narrador mandou "abraço especial"
para Bolsonaro. No intervalo, houve boletins oficialescos
de notícias.

Comparadas ao extremismo ideológico de outras
repartições e ministérios, tais intervenções parecem
menores, mas são reveladoras.

Como é corriqueiro na história, o candidato um dia
crítico do uso de recursos públicos para propaganda
pessoal e partidária logo se vale desses meios uma vez
no poder.

O aparelhamento ontem repudiado é a boquinha do
militante ou do bajulador de hoje. Planos de
desestatização são abandonados em nome da
conveniência de ter aliados e votos no Congresso.

Além do mais, intervenções no universo das
comunicações podem ser instrumento para espezinhar
ou ameaçar empresas desafetas do poderoso de turno.
A história se repete com Bolsonaro.
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