Clipping Banco Central (2020-10-17)

(Antfer) #1

Juventude


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
sábado, 17 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Fernando Haddad


"Universidade Federal do Rio de Janeiro! É do Rio de
Janeiro ou é federal? Ou assume a atribuição ou
devolve tudo, e normalmente se empurra a conta para a
União. A União são nossos filhos e netos. A União não é
um ser abstrato."


Suprimi algumas palavras da delirante reflexão de
Paulo Guedes para torná-la menos desconexa. Na
visão do ministro, o Rio de Janeiro é um ser mais
abstrato do que a União. Investir a receita de impostos
na educação de nossos filhos e netos é empurrar lhes a
conta. Guedes, no fundo, quer apenas se livrar das
universidades federais.


O historiador Eric Hobsbawn destacou o quanto os
projetos nacionais europeus foram tributários do
progresso educacional de pessoas oriundas das classes
menos favorecidas, que passaram a ocupar posições
até então reservadas a uma pequena elite. "O progresso
das escolas e universidades dava a dimensão do
nacionalismo", resumiu.


Inspirado nessa premissa, Benedict Anderson
descreveu a última onda desse processo nas ex-
colônias da Ásia que culminaram com a formação de
Estados nacionais. De comum, o papel da educação da
juventude. Suwardi, por exemplo, contava 24 anos
quando publicou seu famoso artigo contra o domínio
holandês sobre a Indonésia, em julho de 1913.

A universidade pública brasileira é um pequeno milagre.
Último país do continente a criar uma universidade, o
Brasil, mesmo com os recentes cortes orçamentários,
responde, ainda hoje por 50% da produção científica da
América Latina. Entretanto, só no século 21 as portas
da universidade se abriram para os "filhos e netos" do
trabalhador, sob a liderança de um sem diploma. Hoje,
felizmente, 70% dos estudantes das universidades
federais são egressos da escola pública; mais de 50%
são negros.

Além disso, o fim do vestibular, com a reformulação do
Enem, permitiu à juventude uma mobilidade inédita pelo
território. Uma consciência nova vai se formando. Em
cada universidade federal há estudantes de
praticamente todos os estados, realidade que passa a
milhas de distância da concepção de país de Paulo
Guedes.

A inédita expansão do acesso à educação superior
pode criar as condições subjetivas para que essa
geração faça história. Nosso século 20, ao contrário do
asiático, foi marcado pelo descaso com a educação.
Causa e consequência disso, pelo menos em parte, o
Estado nunca se emancipou dos particularismos da elite
econômica.

Dois terços dos eleitores até 24 ano s reprovam o
projeto antinacional de Bolsonaro. É o segmento mais
crítico ao governo. Virá deles a energia para construir o
Brasil a partir dos escombros do bolsonarismo.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas, Banco Central - Perfil 1 - Paulo
Guedes
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