Clipping Banco Central (2020-10-17)

(Antfer) #1

A Amazônia sem valor


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
sábado, 17 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Rodrigo Zeidan


A Amazônia não dá lucros. Não existe uma reserva de
ervas medicinais a serem descobertas, gerando trilhões
de dólares de royalties. Não há riquezas imensas no
subsolo a serem exploradas, nem terras férteis que
façam valer apena derrubar árvores. Não precisamos ter
medo dos pesquisadores surrupiarem as nossas
riquezas naturais, nem dos gringos invadirem o país
para tomar a floresta.


Pelo pouco potencial comercial é que, na área da
Amazônia Legal, que corresponde a mais de 6o% do
território brasileiro, vivem somente 12% dos habitantes
do país.


Em um país no qual desmatamento gera grandes
ganhos financeiros, não sobra nada. Na Islândia, antes
da chegada dos seres humanos, quase 40% do país era
coberto de florestas. No início do século 20, elas já
haviam sido dizimadas; a cobertura florestal chegou a
meros 0,5% da área do país.


Desmatamento é um problema de ação coletiva. Gera


pouquíssimo benefício para quem desmata, mas muitos
custos para o resto da sociedade. Mas mesmo para
quem em tese se beneficia, desmatar tem custos. E
preciso mobilizar máquinas e equipamentos para áreas
de fronteira onde não há infraestrutura adequada. Se é
ilegal, há o risco de perda total do investimento, e até
cadeia, se houver apoio para fiscalização. É um
investimento de risco, que só vale quando a
possibilidade de retorno é elevada, o que só acontece
quando é possível vender por preços altos produtos
relacionados ao desmatamento, como madeira, bois e
produtos agrícolas.

No caso da extração ilegal de madeira, ao longo das
últimas décadas esforços públicos e ações da
sociedade civil criaram mecanismos para desestimular
esse mercado, como obrigatoriedade de certificação
para exportação e pactos como o Pacto para Madeira
Legal e Sustentável, no Brasil.

A extração ilegal de madeira ainda existe (estudo
realizado pela ONG Imazon estima que 70% da madeira
explorada no Pará é ilegal), mas é bem menos rentável
do que foi no passado.

Em relação à produção agrícola, o solo de grande parte
da floresta amazônica é surpreendentemente pobre,
diante do que se esperaria de uma densa cobertura
vegetal. Não é impossível produzir soja ou outros
produtos em solo amazônico, mas a combinação de
custos de desmatamento e baixa produtividade limita os
ganhos puramente monetários.

Sobra, então, a pecuária, essa sim a atividade que
ainda é marginalmente rentável, em perspectiva míope
de curto prazo, em solo de desmatamento. Em parte,
rebanhos foram deslocados pelo crescimento da soja
em outras partes do país. Mas é mesmo a expansão do
setor o que mais contribui para destruição das florestas
no Brasil; o desmatamento alimenta parte das mais de
230 milhões de cabeças de gado no país.

Do ponto de vista agregado, a destruição da Amazônia
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