Clipping Banco Central (2020-10-18)

(Antfer) #1

Bolívia vai às urnas sob temor de violência, com a economia em coma


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 18 de outubro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Produto Interno Bruto

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Se houver sensatez, o novo eleito e o futuro líder da
oposição se unirão num acordo de salvação nacional


As longas filas nas portas dos bancos e nos postos de
gasolina de La Paz, durante toda a semana, traduziram
a incerteza da maioria dos 11 milhões de bolivianos
sobre o futuro a partir das eleições presidenciais de
hoje. Eles assistiram em novembro passado à dramática
renúncia de Evo Morales, frustrado na tentativa de se
perpetuar na presidência depois de década e meia no
poder. Os indícios de fraude eleitoral derivaram em
conflitos que deixaram 37 mortos e mais de 800 feridos,
segundo a Defensoria Pública.


Morales, exilado na Argentina, é o sujeito oculto da
eleição. Impulsionou o candidato do Movimento ao
Socialismo (MAS), Luis Arce, exministro da Economia, à
liderança nas pesquisas. Arce é seguido de perto pelo
ex-presidente Carlos Mesa, líder de uma coalizão de
centro-direita. A radicalização semeia temor de reedição
da violência do ano passado, num país cuja economia
se encontra em estado de coma.


Os gastos públicos foram multiplicados na pandemia.


Pelas contas do Colégio Nacional de Economistas, o
déficit fiscal poderá chegar a 15% do Produto Interno
Bruto, mais que o dobro do estimado. Será o sétimo
ano consecutivo de contas públicas no vermelho. Nelas,
destaca-se um legado da era Morales, o aumento
expressivo dos gastos com pessoal. A folha salarial do
governo central consome US$ 579 milhões por mês, o
equivalente a 15% das reservas cambiais do país,
estimadas em US$ 3,7 bilhões.

Não há mais "ajuda" brasileira, via antecipação de
pagamentos pela importação de gás. Mas, como não se
faz campanha eleitoral sem utopia, todos os partidos
adotaram a mesma promessa de "salvação" nacional: a
exploração e industrialização do lítio. A Bolívia tem uma
das maiores reservas desse insumo básico da indústria
eletrônica, mas nunca conseguiu explorá-las a contento.

A gravidade da crise levou o governo interino a pedir
socorro a organismos como o Banco Mundial. Chegou
a acertar créditos de US$ 300 milhões, que acabaram
bloqueados pela bancada parlamentar do ex-presidente
Morales. Agora, tenta empréstimo de US$ 7 bilhões.
Equivale a 10 % de uma dívida externa que já alcança
28% do PIB.

O duelo nas urnas entre os favoritos Arce e Mesa tem
desfecho imprevisível. Se houver sensatez, o eleito e o
futuro líder da oposição devem se socorrer num acordo
póseleitoral, para pacificar o país e encaminhar
mudanças vitais na estrutura social e econômica. Sem
elas, haverá um novo ciclo de instabilidade, algo sempre
perigoso numa república com histórico de quase uma
centena de golpes de Estado.

Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
Produto Interno Bruto, Cenário Político-Econômico -
Colunistas, Banco Central - Perfil 1 - Banco Mundial
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