Clipping Banco Central (2020-10-18)

(Antfer) #1

BERNARDO MELLO FRANCO - Aquele abraço


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
domingo, 18 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Abola rolava pelas Eliminatórias da Copa quando o
locutor parou de narrar o jogo para mandar um "abraço
especial" ao presidente lair Bolsonaro. Aconteceu duas
vezes na terça-feira, durante a transmissão de Brasil x
Peru. Foi mais um lance do aparelhamento da TV Brasil
pelo governo que ameaçava fechá-la.


Na campanha de 2018, o capitão disse que não
investiría mais dinheiro num canal com "traço de
audiência". Acrescentou que pretendia privatizar ou
extinguir a Empresa Brasil de Comunicação, que
controla a emissora. Em pouco tempo no poder, ele
abandonou a ideia. Percebeu que podería usar a rede
de comunicação pública para empregar amigos e fazer
promoção pessoal.


No mês passado, servidores da EBC produziram um
dossiê sobre o uso político da estatal. Contabilizaram
138 episódios de censura e governismo desde a posse
de Bolsonaro. O retorno da fome, o desmatamento na
Amazônia e os cortes na educação deixaram de
aparecer na telinha. As palavras "golpe" e "ditadura"
foram proibidas em reportagens que citavam o regime
militar.


A EBC mantinha dois canais de tevê: a NBR, que
divulgava os atos do governo, e a TV Brasil, que
sucedeu a antiga TV Educativa. A pretexto de
economizar, o Planalto fundiu as duas programações. A
medida produziu situações bizarras. Programas de
entrevistas e até desenhos animados passaram a ser
interrompidos para transmitir solenidades oficiais e
discursos do presidente.

O Repórter Brasil, exibido em horário nobre, ganhou
cara de telejornal da Coréia Norte. Só dá notícia a favor
do governo. Recentemente, reproduziu entrevistas de
autoridades à "Voz do Brasil", símbolo do jornalismo
chapa-branca.

Quando a TV Brasil foi ao ar, aliados de Bolsonaro
fizeram discursos indignados. Onyx Lorenzoni, atual
ministro da Cidadania, protestou quatro vezes na tribuna
da Câmara. "Para a TV do Lula tem dinheiro, mas para
a saúde, não", disse, em outubro de 2007. "Que
necessidade há de o Brasil criar uma TV para dar
proteção, fazer ode e jogar confete e incenso no
presidente da República?", emendou, em fevereiro de


  1. A emissora foi muito criticada na era petista, mas
    não há registros de nada parecido com o que se vê
    agora.


O jornalista Eugênio Bucci, professor da USP e ex-
presidente da extinta Radiobrás, diz que nunca
acreditou nas ameaças do capitão de fechar a TV.
"Bolsonaro é um efeito da propaganda. Não fazia
sentido que, ao chegar ao poder, ele jogasse fora a
EBC", observa. "Agora acabou qualquer veleidade de se
fazer uma emissora pública e plural. A TV Brasil virou
um aparelhão para uso partidário e culto à
personalidade".

A lei que criou a EBC afirma que "é vedada qualquer
forma de proselitismo na programação das emissoras
públicas". Antes do abraço no jogo da seleção, a TV
Brasil já havia transmitido ao menos quatro eventos
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