Banco Central do Brasil
Correio Braziliense/Nacional - Economia
domingo, 18 de outubro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central
devido à parada da atividade econômica. Em 12 meses
até agosto a prévia do PIB apurada pelo BC já estava
apenas 4,2% abaixo do pico pré-pandemia, em
fevereiro.
O PIB cairá este ano cerca de 4,5%, subirá uns 3%, em
2021, e depois voltará à modorra, se nada mudar. Na
média do biênio, o crescimento seguirá pautado pela
estagnação, algo como 1,2% a 1,5% ao ano. Essa é a
questão: a economia anêmica desde 2014 e há mais de
20 anos no caso da indústria. É a razão do sentimento
de empobrecimento geral.
E é também o motivo de tantos se dirigirem a Brasília,
alguns em jatinhos, muitos de busão, buscando,
empregos, concursos, contratos e coisas
inconfessáveis. O liberalismo real é ficção na capital.
Esse Estado provedor minguou. Mas diminuí-lo é a falsa
solução, já que implica exaurir o serviço público e tirar
de quem mais precisa do governo. É no que consistem
os ajustes fiscais, se a burocracia, sobretudo a graúda,
está protegida pelo tal do direito adquirido.
Mudar tudo para nada mudar
A reforma mal chamada de administrativa, por isso, não
alcança os servidores contratados, só os futuros, e as
propostas se limitam a congelar salários. É como se lê
no magnífico livro O Leopardo: se quiseremos que tudo
continue como está, é preciso que tudo mude.
Mudar a governança, de fato, e o que tornou-se
obsoleto na estrutura do Estado ninguém propõe. Essa
é a essência do que está por trás da grita dos
economistas do mercado sobre o risco do gasto público.
Se o governo e seus novos aliados no Congresso
aparentam ignorar a disfuncionalidade do setor público,
sobre a qual nem a esquerda nem o empresariado
também discutem, não será quem usufrui a ciranda dos
papéis do Tesouro que dirá o que fazer. O mercado
opera por meio de códigos: fala de insolvência, o Banco
Central adverte, agências de rating reclamam reformas,
mas o sujeito da mensagem é Bolsonaro.
Quebra do público e privado
O angu da história é que assim tem sido desde a
reforma monetária de 1994 enquanto o crescimento
econômico para valer não aconteceu. A renda per capita
nesta década será menor que na anterior, e virou lenda
o ritmo do progresso entre 1940 e 1980. Só se sairá do
enrosco com coordenação de governo. Mas de um
governo que funcione.
A funcionalidade começa com diagnóstico correto,
deturpado desde o fim da ditadura militar pela confusão
entre autoritarismo e indução de boas políticas
econômicas e sociais. A sequela é o que Mariana
Mazzucato, economista italiana radicada na Inglaterra,
denomina de "relação quebrada" entre os setores
público e privado.
Fogo no pantanal da dívida
Hoje, essa ruptura paralisa as decisões, pois ampliada
pelo enlace de conveniência entre o liberalismo perneta
da equipe econômica e o viés populista de Bolsonaro e
seus aliados do sistema militar e do Centrão, o
diminutivo e não superlativo do centro no Congresso.
Como essa relação é instável, já que o Centrão é lenço
descartável na política, o que o faz descartar na hora
certa quem dele se serve para não ser ele próprio
descartado, o mercado desconfia da fé dita liberal do
governo ateando fogo no pantanal da dívida pública.
Faz sentido, uma vez que até a lei orçamentária de
2021 está roída em relação à regra do teto do gasto
federal. E isso antes de que o sonho eleitoral de
Bolsonaro de ter um Bolsa Família para chamar de seu
esteja atendido. A certeza é que como está não vai