Clipping Banco Central (2020-10-18)

(Antfer) #1

A vida é mesmo um sopro


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
domingo, 18 de outubro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Ana [email protected]


A mãe de uma grande amiga achava que o estudo era a
coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do
mundo é o sentimento. Ele é o fio condutor da vida,
aquilo que dignifica a nossa experiência terrena. Desde
que saí do isolamento, tenho provas diárias da
importância das relações humanas, do importar-se com
o outro, da relevância de estarmos juntos nessa
caminhada. O tempo passa muito rápido e a vida nos
reserva momentos singulares de afeto. Hoje, queria te
dizer que cada minuto na companhia de quem amamos
tem valor. Porque a ausência do outro é daqueles
sentimentos dificílimos de administrar. Distância e luto,
até virar só saudade e lembrança boa, são dores
extremas.


No pós-covid, com a segurança recuperada e os
exames em dia, me apressei em me reconectar com os
meus e com aqueles que me importam. Voltar a
conviver com minha neta, Liz, foi um sopro tão fresco e
vivo que me emociona. Em sete meses, minha
bonequinha falante já conversa como uma mocinha, um
crescimento impressionante. Penso: o que será que


perdi? No íntimo, sei que nada de tão importante que
não possa reviver porque estaremos sempre
conectadas. Mas, certamente, a ausência poupou
risadas, abraços, histórias para o meu repertório de avó.
Hei de catá-las na imaginação e de pescar aqui e ali nas
suas falas e gestos.

Agradeço por essa oportunidade, sobretudo quando as
notícias da pandemia não são tão boas como a cura e a
chance de um renascer. Hoje, meu coração está com
Vanda Célia, jornalista amiga, que passou mais de 80
dias em compasso de espera, rezando pelo marido,
Alberto Mendonça Coura, lutando para manter a
esperança enquanto ele estava na UTI. Beto se foi. E
não posso querer imaginar a dor de perder o amor da
vida dela. Ninguém se prepara para isso. Não há jeito,
nem caminho possível.

Não o conheci, mas passei a admirá-lo de tanto ler
referências bonitas sobre ele. E também sobre um amor
que atravessou décadas. Anos e anos de
companheirismo. Duas almas que, ao se encontrarem,
tornaram-se uma só. Cúmplices. Convivências assim
são raras e pródigas. Beto vai ao encontro de sua paz e
seguirá nas lembranças da família e dos amigos. Mas
Vanda viverá o luto da ausência. Rezo por ela e por
todos aqueles que viram, nestes tempos, a chama da
vida se apagar. Restam o exemplo de vida em comum,
as lições de um casamento que prosperou com amor e
respeito, a admiração de todos que puderam partilhar
de sua convivência. Força, querida Vanda! A você, o
meu mais puro e sincero sentimento.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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