Clipping Banco Central (2020-10-18)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
domingo, 18 de outubro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Selic

pandemia, no caso dos alimentos: para alguns produtos,
o consumo por refeição fora de casa é maior que dentro
de casa. No dia a dia, você come menos carne, toma
menos café.


A retomada da atividade econômica tem uma pressão
de maior demanda, seja porque a renda melhora, o
emprego melhora, seja porque você volta à
normalidade, e isso afeta o sistema de consumo.


É a retomada do ciclo econômico puxando o preço de
commodities.


Uma segunda variável que se mostra muito consistente
em estudos econométricos é que, normalmente, quando
o dólar se deprecia, as commodities sobem de preço em
dólar. A moeda americana se depreciou no mundo. A
gente viu esse contágio pular para as commodities. As
metálicas e as agrícolas andaram. Os fundos de
investimento voltaram a comprar mais commodities
agrícolas.


A combinação dessas duas coisas vem fazendo com
que os preços de commodities subam em dólar de uma
maneira muito relevante.


O que isso representa para o Brasil??


A gente diz que o Brasil está vivendo um choque de
termos de troca, porque os produtos que nós
exportamos estão se valorizando. Na era Lula, naquele
boom de commodities, muitos economistas calcularam
que até um quarto do crescimento se devia a esse
ganho nos termos de troca.


Neste momento, porém, há uma anomalia no Brasil.
Quando a commoditie sobe de valor, e você tem um
ganho de termos de troca, em um regime de câmbio
flexível o real se valoriza. Só que o real não está se
valorizando. É como se o choque de commodities se
ampliasse para dentro do país.


Essa é uma coisa estranha.


E por que o real não está se valorizando??


A gente vê duas razões. Para reforçar essa questão: a
soja voltou para US$ 10,40. No auge daquele boom
anterior de commodities, chegou a US$ 16 por bushel.
O milho está se aproximando de US$ 4. Ele chegou a
valer US$ 7 naquele outro momento.

Mas, em reais, os preços nunca chegaram ao que está
acontecendo hoje, porque, naquela época, o real estava
muito forte. O que está acontecendo é que o preço está
subindo em dólar e também em reais, muito fortemente.

De onde vem essa fraqueza do real??

Primeiro, porque estamos com uma Selic de 2% e uma
inflação que vai ser de 2,5%, 3% â?"portanto a taxa real
de juro é negativa. Qual a implicação disso? Não há
entrada de dólar para arbitrar diferencial de juros entre
Brasil e EUA e Europa.

A gente também está vendo que muitas empresas estão
matando suas dívidas em dólar lá fora e tomando
dívidas em reais. Ou seja, eu realizo a exportação, mas
não internalizo o mesmo volume de dólares.

A outra razão é que estamos indo para uma situação
fiscal extremamente complicada. Isso eleva a percepção
de risco e, com isso, o real se mantém depreciado.

É uma das coisas mais impressionantes que eu já vi. Se
você faz uma conta da renda bruta dos principais
produtos agrícolas brasileiros, que representam quase
90% da renda agrícola, por quatro anos, de 2016 e
2019, ficou em R$ 500 bilhões. Neste ano, estou
estimando R$ 660 bilhões. Se a safra do ano que vem
for boa, pode ser R$ 750 bilhões.

Estamos tendo um aporte de renda em dois anos, não
só porque o preço em dólar subiu e o câmbio está
depreciado, mas o fato é que é a primeira vez na
história do país que você tem um choque de termos de
troca relevante â?"porque o preço em dólar das
commodities está subindoâ?" e o real continua
depreciado, o que mantém os preços em reais dessas
commodities extremamente elevados, nos patamares
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